A GLORIOSA VIDA DE UM SAPATO

A GLORIOSA VIDA DE UM SAPATO

Muntazer al-Zaidi, o jornalista, afirmou ao juiz Abdel Amir al-Rubaie: "Minha reação foi natural, como a de qualquer iraquiano". Para quem não se lembra, foi esse o homem que atirou um sapato em George Busho, quando o ex-presidente americano, em visita oficial ao Iraque, viu de perto os estragos que promoveu em nome da indústria petrolífera e armamentista do seu país. Os americanos não aprendem mesmo, já tomaram uma surra no Vietnã por causa dessa empáfia: somos os donos da democracia, xerifes da liberdade, conselheiros de Zeus e de tudo o que está sob ou sobre a terra e até além dela.

O pior de tudo é que o iraquiano raivoso errou a sapatada. Busho saiu sem graça, mas ileso. Logicamente, a atitude do jornalista faria mais estrago no ego do que na cara de Buscho. O iraquiano explicou: "Quero chamá-lo de cão sarnento" o que, convenhamos, não é nenhum segredo para a humanidade cansada das das estripulias, do, vamos lá, presidente..

Esse episódio colocou em evidência o sapato. Esse artefato (agora "arte" e "fato") usado pela primeira vez na história como arma de guerra. Atualmente, essa história de atirar sapato em governante safado virou carne de vaca, perdeu o tom de "nonsense". Até no Brasil alguns já ensaiaram o golpe sem aquele toque do "inusitado", do "fragoroso", sem aquela mesma carga de significação. Imagine se resolvêssemos atirar, ao invés de sapatos, coturnos nos nossos cães sarnentos? Haja Franca e China para abastecer nossa fúria belicista.

O SAPATO que envolveu com muito charme os pezinhos femininos ao longo da história, virou objeto de fetiche tanto das damas, quanto de suas mucamas; tanto das mulheres "rotas alteradas", quanto das que nos governam; tanto das compulsivas, quanto das depressivas.... e muitas outras mais. Se o sapatinho ao lado da árvore, entrega o desejo por presentes, os largados do lado lado de fora delatam relações existentes, mas um pouco reticentes.

Estima-se que o artefato tenha surgido no Paleolítico, por volta de 10.000 a.C., já como símbolo de status. inclusive, simbologia é o que não lhe falta. No Brasil, com a chegada da Família Real, em 1808, os costumes europeus se popularizaram e, com eles, passou da necessidade à moda. Os escravos eram proibidos de usá-lo, porém bastava receberem a alforria, logo corriam para adquirir um par para jogar nos ombros. O iraquiano tal como uma mãe enfurecida defendendo sua cria atirou-o no cão sarnento.

As artes o enalteceram. Conhece-se o bom gosto de uma pessoa e seus desejos mais intrínsecos pelo sapato que escolheu. Em Vidas Secas, a pobre Sinhá Vitória, que vivia entre a fome e a farinha com rapadura, no meio da caatinga, exigiu do marido sapatos de verniz para o dia da festa na cidade. Fabiano, matuto, entre o homem e o bicho, comprou verniz para ela e sofrimento para si, botas. Arrancou-as durante a caminhada. em condições adversas, um sapato machuca tanto o que está fora, quanto o que está dentro. Tanto ataca os calos, quanto expõe a vergonha. As botas fizeram de Fabiano gato e sapato. Eram a pedra no seu sapato.

. As mulheres o têm na conta de fetiche ou de peça de colecionador. Imelda Marcos, mulher do ditador das Filipinas, Ferdinand Marcos, exibiu a sua coleção de centenas deles no Museu da cidade de Marinika, conhecida como a capital dos sapatos de seu país. Imagine o prejuízo que Imelda deu aos cofres públicos para sustentar a sua compulsão por comprar suas peças de colecionador. Será que ela os usava? Teria o ditador alguma fantasia erótica com eles? Entreviste algumas mulheres e perceberá que a ex-primeira dama Filipina tem uma enorme quantidade de admiradoras. Segundo Imelda: "Mais do que qualquer coisa, este museu simboliza o espírito e a cultura dos filipinos. Nós não usamos o que é feio ou miserável. Nós reciclamos as coisas ruins em beleza".

VAMOS AO QUE REALMENTE INTERESSA:

Donald Trump é americano, milionário como Imelda, colecionador de inimigos, como Bush, e a sua candidatura é uma ode à imbecilidade, como de Ferdinand Marcos e, por tabela, a dos que idolatram Imelda. Contra si, tem a fúria e a indignação do iraquiano, do mexicano, no saudita, muçulmano... O que alguém poderá jogar sobre sua marquise capilar, quando ele quiser murar os Estados Unidos e atacar os cucarachas em nome do nacionalismo ariano? A pergunta pode parecer insana, mas as atitudes dele, não. Idiota é considerar Trump um imbecil. Ninguém fica bilionário sendo um imbecil. Atiçar o ódio e o radicalismo andam de mãos, desculpem, pés dados nos últimos tempos, que o digam Ângela, François, Cameron (pulou do barco, faz piada, acha que não tem nada com isso).Esse é o alimento de Trump. Quantos se atreverão a chutar a sua bunda? Formas é que não faltam e exércitos são muito bons em chutar bundas desde que isso interesse aos seus coturnos. São especialistas na arte de encobrir o golpe.

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