HOMENS COMO FLORES

HOMENS COMO FLORES

As flores. Os gourmets. Os temperos. A gastronomia. Comida arte. Exótica arte. Arte de degustar.

Arte de saciar.

As flores. Van Gogh. A distorção violenta. Extraordinária violência. A distorcida violência da cor. Música da cor. Tom sobre tom. Fantasiada arte de reapresentar.

O homem ama cultivar flores. Flor sustento. O homem comercializa flores. Flor sustento. O homem come flores. Flor sustento. Terra. Cofre. Sabor. Distorção do significado. Autêntica revolução.

As flores falam do tempo da mulher sonhada, da mulher desejada, da mulher amada, até o amor virar desamor. Desamor. Falta a flor. Sobra dor. Pura dor.

As flores escondem as cicatrizes da alma, as mágoas dos amores não correspondidos, a hipocrisia dos homens tolos presenteando mulheres pelo seu dia, que são todos.

Se há um Deus, é feminino, é mulher. Só as mulheres são capazes de gerar vidas e belezas simples e infindas. Flores trazem, em si, o sexo masculino e o feminino. Flores fecundam a si mesmas. Cumprem o ciclo da vida: nascem, crescem, embelezam, murcham, morrem. Adubam o solo. Fecundam a terra. Fazem renascer.

      As flores combateram os canhões nas revoluções românticas, na dos Cravos.  Os cravos enfeitaram os canos que cuspiam a morte e os soldados se enterneceram, engoliram as balas da redenção para engravidar a terra, a mulher, a mãe. Filhos dos soldados nasceram e já não são mais soldados, já não cultivam a morte, já se apaixonaram pela vida e fazem a maior revolução que o homem se propôs a fazer: tornar fecunda a paz, para tornar fecunda a vida.

      As flores choraram com as mortes nas guerras, estiveram, estão e estarão sobre túmulos e caixões. Tornaram, tornam e tornarão a tristeza bela e o sofrimento perfumado. Os entes queridos murcham como elas, ao se misturarem à terra e reciclarem a natureza. Semearam juntos possibilidades de novas vidas, para novos seres, como disse Lavoisier que assim seria e como sempre está sendo.

      As flores e os homens se utilizam, completam-se na fúria ou na ternura, no desejo ou no tédio. Eles e elas são perseverantes sobreviventes desse mundo de injustiças, mas também de profundos suspiros de amor. Como elas, eles são parte dessa beleza infinda que se chama viver.

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