Livro “A conta gotas” que jamais será publicado

Livro “A conta gotas” que jamais será publicado

 

 

I

O que vale mesmo é a estrada. Há pontos de parada, pontos de partida. Mas, o que vale mesmo é a estrada.

                                                                                                                                                                        (Luke)

 

II

Comprei uma semente de palavra para enfeitar a minha casa

Arrebentou o caso em busca de gente, a certeza nunca a encontrará.

                                                                                                        (Luke)

 

III

Eu não sei dançar

Mas, se soubesse, brincaria de poeira no ar. (LUKE)

 

IV

Os cantos da boca dizem o que a boca não diz

A boca da razão não diz o que o coração quis.

                                                                    (Luke)

 

V

A noite no cio; nas veias, o rio

correnteza de sentimentos

nenhuma palavra consegue amarrar

nenhum discurso consegue explicar.

                                                    (Luke)

 

VI

Eu cria que as coisas efêmeras pudessem se eternizar

Acordei um dia pensando que pudesse engessar o ar

Ele se riu de mim, era bicho concreto, pôs-se a cantar

Correu assobiando até me derrubar.

                                                    (LUKE)

 

VII

Aprendi nos meus andares:

Nunca faça críticas construtivas

Críticas atingem a emoção, não a razão

O crítico crê-se pedreiro usando argamassa

para manter concreta a construção  

Críticas não são argamassa, são tijolos soltos

Assemelham-se a demolição

Derrubam a autoestima no chão.

                                            (LUKE)

 

VIII

Prendi nos meus falares:

Ensinar extrai o sumo, o prumo, o rumo do aluno

Aprender dói, rói, desconstrói, reconstrói convicções

Educar é o derrubar paredes: visíveis e invisíveis. (LUKE)

 

IX

Ou criatividade é sinônimo de falar o que não se sabe, o que não se vê

Ou criatividade é falar o que todo mundo vê, mas não como você. (LUKE)

 

 

X

PA-LAVRA

PALAVRA ADVÉM DE LAVRA

LAVRAR É TRABALHAR

ESCREVER ADVÉM DE VER

VER É DESCOBRIR

USAR A PALAVRA É VISLUMBRAR

ALÉM DO ÓBVIO... DO FÁCIL... DO TÁTIL...

(Luke)

 

XI

Queimei meus pés na areia

Praia. Sol.

Queria ser deus. acordei mortal.

Posso morrer de sede em frente ao mar

Posso morrer de fome em frente ao mar

Posso morrer bebendo o mar sem respirar

A natureza tem um humor sarcástico

“Nós” ficam de frente pro mar

Quem sabe, o mar é que está de costas pra “nós”?

(LUKE)

 

XII

 

A moça

de olhos azuis era uma abstração

tinha olhos de cão

Palavras de mel

temperavam lábios de fel

se sorria, tudo virava meio-dia

Olhos de inverno

metaforizavam o inferno

(LUKE)

 

XIV

Eu sou um ser humano: por favor, não dobre, não perfure, não mutile.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

XVII

 

PARTIDA

 

Uma parte vai

Outra parte fica

 

Uma parte é ida

A outra é partida

 

Uma parte fica

A outra vai partida

 

Partes vão

Partes ficam

 

Fica a herança

Vai a lembrança

A vida trança, trança

(LUKE)

 

 

 

 

 

Compartilhar: