"MAÍTE" E A PANDEMIA EMOCIONAL

"MAÍTE" E A PANDEMIA EMOCIONAL

(Luiz Cláudio Jubilato)

Não nasceu com a pandemia, ao contrário, é "mais velha que o rascunho da bíblia", porém se exacerbou com ela.

Se não tomar cuidado, caro vestibulando, sofrerá de "maíte". Os sintomas são recorrentes: apatia, autossabotagem, crises de ansiedade e depressão, tendência à violênia, mania de dizer que sofre de estresse diante de qualquer dificuldade, fragilidade de uma casca de ovo ou de um copo de cristal.

Esse fenômeno sempre ocorreu devido à rotina: não há nada de novo nem nas aulas, parece que os dias se repetem numa mesmice inquietante; à proximidade do vestibular que vai se tornando, a cada dia, um monstro sugador de dias: o tempo passa rápido; ao excesso de matérias para estudar, afinal é impossível estudar tudo e ainda ler os livros das diversas listagens oficiais; ao concorrente que parece ter uma boca enorme, com dentes enormes, preparada para abocanhar a vaga.

A pandemia de covid exacerbou as emoções: uma piada vira um crime, uma cantada vira uma bofetada, comportamentos fora do padrão héterossexual é motivo para agressões verbais que caminham passo a passo para a corporal.

Ficou muito difícil dar aulas, os professores se tornaram verdadeiros mediadores de conflitos entre alunos. Muitos acabaram se tornando vítimas de agressões. Os alunos sofrem com um comportamento contraditório típico, agora extremo: o aluno apático no intervalo e insubordinado em sala de aula. Está quase impossível manter a disciplina.

Em várias entrevistas, assisti a pais reclamando das aulas remotas, pois os filhos sentiam falta da proximidade dos amigos e dos professores, poucos preocupados em acompanhar o desmpenho dos filhos durante o ano.

Não se iludam pais e professores, quero ser sincero: grande parte dos alunos não estudam de forma alguma. Dão a desculpa de que há matérias demais para estudar na escola, por isso estão extressados. Estresse é uma palavra recorrente, define qualquer tipo de comportamento de quem não sabe se organizar.

Parafraseando Freulein Elza, personagem de "Amar, verbo intranstivo", de Mário de Andrade, para os brasileiros, estudar é um suplício; ler, uma efemeridade.

Corroborando tudo o que dito até agora, escrevo todos os anos um artigo como este devido à mudança de perfil do aluno. Pena que eles não leem, pois há mais de um parágrafo. Ele serviria como alerta para um momento crítico: a "maíte" faz com que o aluno perca "a vaga para si mesmo" (virou o seu próprio concorrente).

Prefiro mil vezes o aluno que "caiu na real" em maio e começou a estudar, àquele que "chutou o balde", pois lhe falta disciplina, conhecimento e vontade. É o que deixou o carro descer, sem freio, ladeira abaixo, fatalmente baterá com a cara no muro ou capotará na curva. Nesse caso, ja poderá começar a procurar o melhor cursinho para 2023.

Casos sérios:

1. Fazer dez, vinte vestibulares é prova de insanidade: Primeiro, você quer ser universitário(a) ou um(a) UNIVERSÁRIO(A). Quer ingressar em uma universidade ou emuma UNIVERSIDADE que lhe dará as melhores condições para ser um(a) profissional gabaritado(a)? Segundo, as faculdades possuem curriculos muito diferentes, você poderá entrar em uma "roubada". Terceiro, vestibular tem mais a ver com foco do que com quanidade de possíveis chances.

2. Não existe essa história de "na hora eu se viro". Não se vira. Há uma pequena parte de concorrentes muito bem preparada. As vadas são deles.

3. "Enrolar" para fazer as redações é supostamente o mais fácil. A redação é a "única prova eliminatória". É o "primeiro critério de desempate". É o "principal diferencial" entre os bons e os medianios. Não se aprende a escrever de uma hora para outra. As melhores redações são frutos de uma prática constante até construir linha de raciocínio, domínio da norma culta, repertório cultural. Decorar um dos mil "modelos" espalhados pela internet é um risco, as universidades já desenvolveram métodos para identificá-las.

4. "Surtar" porque não "arrebentou" no simulado é um grande desconhecimento do que enfrentará. "Simulado" já define a intenção da escola. Aprende-se com o simulado. O que menos importa é o desempenho: acertou a questão, porque sabia?ÓTIMO/SABE. Acertou "no chute", ENTÃO ESTUDE/NÃO SABE. Não acertou? ESTUDE, SEM DESESPERO.

5. "Depender" do smarthfone o dia inteiro, inclusive, perto da hora dormir é compulsão. Sono agitado.

"Sono ensina".

"Você tem medo de perder? Já perdeu".

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