Minha sina

Minha sina

Sou palavras

Não me definem, brigam comigo, divórcio, reconciliação

Às vezes acho uma dormindo em um canto da mente, retiro-a do sono, ela, vingativa, atormenta minha imaginação, destrói minhas incertezas, brigam comigo, distorcem meus sins, meus não, meus senões

Tento catá-las no chão, nas pessoas, nos fatos, nas observações,  nos medos, nas belezas, nas construções, desconstruções, elas se rebelam, têm amor próprio, não aceitam cabresto nem prisão

Tento usar a chibata da gramática, escondem-se nas conotações

Não adianta

Luta inglória

Sempre me nocauteiam em um pretenso final

Angustiante, nunca há um final, nem no famigerado ponto final

Palavras não se vão com o vento, são o vento

Arrasto-as para os meus quês, para adestrá-las, amarrá-las no meu dizer

Elas dizem por conta própria, pulam muros, vazam cercas, saem pelos poros

O pior é quando se escondem

Procuro-as nos cantos de tudo, não adianta

Essa reconciliação e divórcio me perseguem desde o útero

Ora são desejo e prazer; ora meu tormento, minha maldição

Sem fim

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