O BRASIL É UMA PORCARIA

O BRASIL É UMA PORCARIA

Paris é uma festa, escreveu o velho Ernest Hemingway.

E como é! Só os parisienses é que parece não se divertirem nada. São como aquela velhinha ranzinza do andar debaixo. Aquela que bate com a vassoura no teto. Os garçons batem com os talheres na mesa. Receito que com vontade de bater com os pratos na cabeça do “mala” do turista.

Encontrei-me embaixo da Torre Eiffel. Sonho finalmente realizado. Um amontoado de vendedores desgrenhados, imigrantes de todas as partes podres do mundo, vendem miniaturas advindas de algum buraco do interior da China. Um deles grita: “Brasileirrrosssss ... brasileirrroooosss... Ronaldinho.... Romárrrio... Neymarrr...”. Sorri, retribuí: “Zidane... Platini...”. Eles caíram na gargalhada.

Otário. Eu cri que eles riam para mim. Na verdade, riam de mim. Na verdade, avisavam os cupinchas que um bando de trouxas chegava para a festa.

Fui assaltado na França; nunca o fui aqui. Todo mundo conta uma história como essa. Agora também esse otário tem a mesma para contar. Sou um jumento. Nem nisso saí do senso comum. É chique, para muita gente, contar que foi assaltado na França, afinal o ladrão não é qualquer um, ele assalta em francês.

Paris fez com que eu me sentisse em casa. O taxista, esperto, rodou, e rodou, e rodou como fazem os das grandes, médias e pequenas cidades brasileiras até chegar aos intestinos da torre. Fiquei puto. Discuti com ele. Ele fez que não falava inglês. E, nem aí para a minha reclamação, foi embora.

Em Londres, ouvi, vi e ri. A fleuma e a pontualidade britânicas são cantadas em verso e prosa por todo turista terceiro-mundista. Nunca me senti tanto em Portugal e na Itália, como nos dias em que estive em Londres. No centro nevrálgico da capital britânica, pululam trattorias. Patrícios, para variar, são ilustres proprietários de padarias, e padarias, e padarias.

É sempre o bate estaca do turista embevecido: “O ônibus aqui chega na hora certinha”. Se for para chegar às 17h37min, ele chega exatamente às 17h37min. “Pronto”. “Chegou”. Notthing Hill é a 15 de Março dos ingleses, porém a Julia Roberts não fez aquele filme idiota na 15 de Março. Virar sacoleiro em inglês é bem mais chique. O chinesinho do buraco do fim do mundo só muda de endereço, agora fala o idioma da rainha.

No Brasil, se houver ônibus, chovendo ou não, de qualquer jeito, passa lotado, com 1h de atraso, no mínimo. In England, se a meteorologia avisa que choverá ao meio dia, com ventos de 80 km/h, não falha. Pode medir: Chove ao meio dia e os ventos são de 80 km. Prepare a capa de chuva. Aqui a meteorologia erra feio. Com a maior cara de pau, se avisa que vai chover e não chove, põe a culpa na tal zona de convergência do Atlântico e empurra as nuvens para o mar. Peixe não reclama. Não ri.

Na Inglaterra, tudo funciona, e bem. O metrô é muito limpo, não há empurra-empurra. Ninguém encoxa ninguém.  Inclusive, a polícia e a justiça funcionam bem. Jean Charles correu. A polícia atirou e, lógico, acertou. Eles nunca erram. Ele era terrorista, não era? Se não era, ficou sendo, para desonra de sua honesta família. Até desonrar funciona.

Os magistrados fizeram um escarcéu. O mundo, estupefatos, esperou a punição. Chamaram o chefão da Scotland Yard. A justiça rapidamente julgou. Nenhum policial foi punido. Eh! Realmente funciona. A polícia daqui atira e, lógico, erra. No entanto, toda bala perdida tem endereço certo. Funciona. Aqui a justiça chama. Interroga. O coitado vira bandido, mesmo não sendo. A justiça faz um escarcéu. Nenhum policial é preso. Funciona também.

Aqui um monte de gente quer o impeachment da Dilma; lá eles queriam defenestrar o Tony Blair. O Tony enfiou o país numa guerra suicida para embolsar uma bela grana. Saiu pela porta dos fundos. Dilma! Psiu! Falta a guerra. A chave já está enfiada na fechadura da porta dos fundos. É só fundar depois o instituto Tony Blair. Desculpe, Dilma Rousseff e correr de braços abertos para dar palestras em alguma lavanderia por aí.

 Se não te contaram, vou te contar. Funciona, e bem, desse jeito, tanto lá, quanto aqui. Milimetricamente. Poderosos nunca são punidos. Têm boca, mas não têm ouvidos, nem olhos.

Dei de cara com a réplica do barco de Francis Drake, perto Tate Modern, tremi. Se não fosse esse e tantos outros “servidores” fantasmas da rainha. Funcionários fantasmas me assustam. Se não fosse a pirataria, a empáfia europeia seria outra. Seriam pobres e famintos como nós. Para quem não sabe, a fome é pontualíssima. A barriga ronca a cada minuto. Relógio biológico Eles a sentiram no bucho, foi a única coisa que não roubaram de nós..

Conheci um monte de árabes, judeus, italianos, americanos, ingleses, franceses, todos fugiram de seus países em guerra para usufruir da nossa guerra, em paz. Eh! Aqui isso funciona.

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