O GRITO

O GRITO

E eu que queria gritar...
E eu que vi o universo derreter...
E eu que estava só...
E eu que abri a boca sem dentes...
E eu que encarava o infinito em desespero...
Estamos todos sós atravessando a ponte entre o nada e parte alguma...
Estamos todos sós perdendo nossos corpos e nossas almas em meio ao caos...
Estamos todos sós derretendo em traços e cores violentas...
Todos os traços e cores convergem para a boca sem dentes.
Todos os traços violentos convergem para o grito oco.
Todas as cores violentas trazem o caos para o grito mudo.
O quadro todo agride: distorções violentas.
O quadro todo agride: desencanto violento. 
O quadro todo dói nas retinas.
O quadro todo dói na temática.
O grito violento ecoa preso na tela.
Edvard era louco (?) na sua lucidez e nós lúcidos(?) na nossa loucura.
Edvard grifou todos nós como um só. Somos a garatuja. Somos a rubrica.
Edvard? Há outras "coisas" na ponte. 
São eles? Os que mandam em nós? 
São eles? O que querem de nós?
Elas usam cartolas e fatiota. 
Não têm cara. São sombras.
Edvard? Há canoas na água.
Elas navegam na luz do fogo.
Navegam sem medo no caos.
Edvard Munch estava trancado num hospício; nós soltos noutro.

Compartilhar: