O LIVRO DANÇA

O LIVRO DANÇA

DIA MUNDIAL DO LIVRO

O dedo toca a seta, que aponta para uma direção, a página anda para frente; toca a que aponta para o sentido oposto, a página anda para trás. Todo leitor digital deixa sua impressão digital na tela plana do computador. O livro luminoso passeia nos olhos, na razão, memória, identificação, amor, terror, medo, raiva, realidade, fantasia... no turbilhão de emoções e sensações, desejo e paixões de quem o devora, de quem abre suas pernas, reconhece os seus segredos, vira e revira a madrugada extasiado até o amanhecer.

Dois dedos agora são necessários para brincar de passear com as folhas para cima e para baixo, para frente e para trás. Ora vêm aos lábios que degustam o seu sabor, para descer como cola, quando elas insistem em parar de brincar. Há os que precisam do perfume da tinta, que personaliza as letras, exala das páginas, do odor que impregna.

O personagem esférico, de tão grávido, de muitos “eus” mergulha fundo no tema, entra pelo livro adentro, só se revela inteiro no fim; o secundário surfa superficial na superfície plana da página; o terciário muitas vezes é percebido a duras penas apena pelo olhar. Nasce como mosca rara, existe para, no espaço de uma linha ou até um parágrafo, pouco existir.

Um personagem é meu siamês, retiro-o do tema e passeio com ele em mim; outro é a tua cara, vejo-o em ti. É um brincar de pique de esconde-esconde, montar um quebra-cabeça, em que se ganha em se perder. O livro dança grávido sempre, levando personagens, gente, sabores, odores, mundos, emoção e razão de mão em mão.

O livro provoca: decifra-me ou te devoro; esqueça-me e eu encho o espaço dentro, fora de ti. Vou deixá-lo fora de si. Ele é puro desafio, pura diversão. Não é chicote, para ser usado para uma severa punição. O leitor não aprova a prova, pois o livro não é calça de jeans. Ela estraga, quando lavada. Ele, não. A história estória é eterna, mesmo em folha rasgada. Ele suscita, ressuscita, diferente em si, quanto mais nos predispomos a relê-lo para nos reler, porque mudamos para envelhecer e nos metamorfosear.

Há um livro que me chama a atenção, virtual ou concreto, grosso ou fino: o que não li. O que vai brincar de dançar na minha imaginação. O livro precisa dançar de mão em mão, senão vira um mero objeto abjeto, para um tolo chamar de decoração. 

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