O Livro quebra-galho

O Livro quebra-galho

(O Boca do inferno - macaco gordo)

PROFESSOR ESTRIPADOR:

Quando peço ao aluno para ler um livro. Parece que estripei o pobre coitado: "Ai ...professor! Tem de ler, mesmo? Não tem resumo, não? Nem filme? Aiii!!!não acredito nisso. Só pode ser sacanagem. Cê tá brincando, né? Só pode ser. Aaaaaiiii, fessô, ninguém merece, né? Então, tenho de ler mesmo? Ah! Quebra o galho, fessô. Olha, nesse final de semana tem a festa da Sá, no outro da Cá, no outro Ná e no outro da Gê. Aiii!!! Essa não.

PROFESSOR CONTADOR: Quando peço para o aluno ler um livro, logo ele me pede para contar a história. "É pra economizá tempo? Pergunta inevitável: “Quantas página ele tem? É muito grande? É muito grosso? As letra é muito pequena? Esse não é daqueles livro que a gente precisa de dicionário pra lê, né? Quantos capítulo tem? Se for muito difícil, o senhor não quebra o galho e explica pra nóis antes da prova. Vai tê prova, né?"

PROFESSOR MILAGREIRO: Quando peço para o aluno ler um livro, deparo-me com o fenômeno da transubistanciação. "Um livro? Tem de ler esse 'troço', mesmo? Um livro? Tem certeza disso, fessô? Que saco, tenho muito mais coisa pra fazê que lê um livro? Essa merda? Ah! Fessô, quebra o galho, deixa essa 'coisa' pro mês que vem, pô!!! Cê nunca foi jovem, né? Duvido que cê já tenha sentado num buteco, com uma galera, pra falá sobre livro!" “Quem fez essa porra desse vestibular, não deve tê mãe, mas só com a sua aula dá, né? Cê é foda, né?”

PROFESSOR FERREIRO: Quando peço para um aluno ler um livro, tenho a impressão de que lhe enfiei um ferro na barriga. "Ah! Fessô! o senhor ferrou com meus finais de semana. Senti até dor de barriga agora. Vou demorá um tempão pra lê. Essa doeu. O senhor já teve namorada? Então sabe como é que é. E o pior de tudo é que a minha é gata, gostosa. Se eu não pegá, vem outro babaca e carrega. Ela gosta da balada. Ela não consegue fazer a diferença entre um pouquinho de macarrão com um porrão de macaquinho. Mais eu amo ela, ela é muito deliciosa, fessô. Todo mundo dá em cima. Não tenho vocação pra corno. Cê sabe o que é isso, né? Quebra o galho, fessô. Não ferra com minha vida, não!!! Vai sê a maior zoeira se ela me corneá”

PROFESSOR AMEAÇADOR: Quando peço para o aluno ler um livro, tenho a certeza de que estou sendo ameaçador, o pior de tudo não é ser ameaçado por uma pessoa de extenso vocabulário, que domina o fenomenal recurso da repetição enfática: "Fessô! fessô! O senhor tá doido, fessô! Sai dessa, fessô! Ninguém vai lê essa porra não, fessô... Fessô! Fessô! Fessô. Todos nóis aqui é chegado num sertanejo universitário, fessô! Tá vendo, fessô? Universitário, fessô. O sinhô não qué que a gente seje universitário? Tem um show do Suvico e Suvaco, hoje no rodeio, fessô. Cê num acha que alguém, em sã consciência, vai ficá lendo seu livro, fessô?... Fessô, fessô... O sinhô não tem nada pra fazer, não fessô? Ah! Quebra o galho, fessô! Deixa a gente ir vê o Suvico e Suvaco, fessô..."

PROFESSOR CARTOMANTE:
Quando peço para o aluno ler um livro, os olhos ansiosos dele parece me comerem vivo. As perguntas são inevitáveis. "Esse livro cai no vestibular, fessô? Só vale, se caí. Tem resumo! Resumo quebra o maior galho. Ainda tem a sua aula, né, fessô? Não vem com esse negócio de cultura geral, não. Cultura? Sou a favor da cultura brasileira. Geral, pra mim, é quando saio na noite e pego geral. Em qual vestiba cai, fessô? É um pé no saco ficá lendo essas coisas, chatas, quando a gente tá cansado de sabê que não vai caí. Tenho muita física, química e matemática pra estudá. Vô ficá lendo livro? Por exemplo: Como é que se chama aquela biscate do livro... daquele carinha...? Aquele carinha que escreveu sobre aquela safada que chifrava o cara com o melhor amigo dele! O cara chato, meio bichinha, que o amigo morreu afogado? Ah! Cê sabe que isso existe mesmo, fessô? Eu mesmo conheço um figura que passou por isso. Quebra o galho, fessô. Diga logo o que vai caí. Cê fica só enrolando nóis. Tenho vontade de encher o cara que faiz essa prova. Ele não deve tê mãe não?

DEIXANDO ESSA BRINCADEIRA SÉRIA DE LADO:

a) É um absurdo que o sistema educacional, com a conivência das escolas, tenha levado o aluno a não gostar de ler (essa grande potência chamada Brasil está entre os países onde menos se lê no mundo), não saber escrever um texto em 30 linhas na sua língua Natal. 
b) É absurdo que se use a literatura como instrumento de punição, como obrigar o aluno a fazer uma prova sobre determinado livro ou um juiz diminuir a pena do detento que copiasse um capítulo de Grande Sertão, Veredas de Guimarães Rosa.

APESAR DE TUDO ISSO, HÁ ALUNOS QUE LEEM MUITO E ESCREVEM MUITO BEM, SEM QUE NINGUÉM MANDE. COMO DIRIA BERTOLD BRECHT: “ESSES SÃO OS IMPRESCINDÍVEIS”.

 

Compartilhar: