O OVO DA SERPENTE

O OVO DA SERPENTE

(O BOCA DO INFERNO – ÀS VÉSPERAS DAS MANIFESTAÇÕES?)

 

A Internet realmente engoliu as nossas vidas. Pior, costurou-se a ela de tal forma, que já não sabemos o que é tecido, linha, moda, verdade, mentira, ódio, idiotice, achismo, opinião, argumentação, mera confusão de ideias, burrice, charlatanismo, safadeza, honestidade, indignação, espaço ou ciberespaço...

No pleito de 2014, foi ela a alfafa que alimentou o ódio: PT x PSDB; AÉCIO x DILMA. Disputas políticas são cruciais, fazem parte do jogo democrático, manifestações e repúdio ou de defesa também, porém propagar o ódio e alimentá-lo, com todo tipo de boato, é expediente de regimes tirânicos. Os tiranos aproveitam-se das divisões entre os opositores, para criarem raízes no poder. E criam. Observem o que historicamente aconteceu e acontece nesta América Latrina.

O Facebook parece mais real que a realidade. Pessoas, que não têm coragem de ir às ruas manifestar-se, vão aos posts criticar a crítica, comentar o comentário, tornar coloridinha a estupidez, mascarar as intenções. E com carinhas amarelinhas, mãozinhas aplaudindo... Pregam a censura para as posições contrárias às suas, depois esculhambam o governo, acusando-o de censor. Acusam o governo de corrupto, porém acham normal subornar um funcionário público, tirar vantagem das diatribes das nossas leis, cheias de buracos, criadas para salvar quem tem dinheiro.

Não fiz campanha pró-Dilma, muito menos pró-Aécio. Para mim, são o mais do mesmo. A nomeação de Joaquim Levy, adepto da ideologia Psdebista, para o ministério da economia, a adoção de uma política econômica ortodoxa atestam a verdade do que digo. Petistas berraram, de um lado, contra Dilma, e psdbistas berraram do outro, contra Dilma. Até parece que Dilma manda alguma coisa, joguete nas mãos do chamado jogo pelo “pudê”. O PT joga o jogo do Lula, finge que não ouve, não sabe, não vê. O PT entendeu o antipetismo, sim, por isso a cada dia descola-se mais e mais de Dilma. Ela está sozinha na boca do leão. Também quase todos os "companheiros" são acusados de alguma coisa! Qual a moral para defendê-la? A sorte deles é que serão julgados, na sua grande maioria, por ex-correligionários.

É chato dizer isso, contudo, durante o período eleitoral, alertei, para um fato crucial, dentro do jogo eleitoral. Lógico, o texto era longo como esse, então ninguém leu: Enquanto a polarização Dilma x Aécio, PT x PSDB punha os trouxas nas ruas, distribuindo porrada, cusparada, xingamentos, o PMDB se esqueirou, nas sombras, como sempre. Papou todos os cargos importantes, como sempre. Nenhum partido governa esse país, há muito, sem se assentar no colo do PMDB. A exemplo do PT, vive metido em denúncias de corrupção, fisiologismo, corporativismo... E nada de punição.

O PMDB tem o vice-presidente (Temer – não há assento no primeiro E), o presidente da Câmara, o presidente do Senado, o presidente do Congresso, o Presidente da Presidenta. Esse partido partido sempre tem o bônus do poder sem ter o ônus de botar a cara para bater. Conta com a viseira do brasileiro, que mal consegue ver o abismo a sua frente e também com a total falta de interesse pela sua própria história. Nenhum escândalo consegue, de fato, arranhá-lo, que dirá, amassá-lo. Michel e asseclas apareceram na tevê, deitados em berço esplêndido, com seus sorrisos plácidos, como se nada tivessem a ver com o atual desgoverno. Agora é governo, mas é oposição também.

Alerto para outro fato crucial: esse sim me dá arrepios. Essa polarização petistas x antipetistas, “impeachment” de uma presidente eleita pelo voto x os que a defendem, abre espaço para um movimento, que se espalha, cada vez mais, pelas redes sociais, fruto da vontade de gente muito mal intencionada. Primeiro, esgueirou-se nas sombras, agora está explícito nos posts. Ele exige a volta dos militares ao governo. Do poder, de fato, jamais saíram. Seus instigantes pregam o enfrentamento. Contam com a conivência de jovens imberbes, que não têm a mínima ideia do que é viver debaixo de um regime totalitário. Pior, não têm interesse nenhum pela história do seu próprio país. Não conseguem um argumento consistente para defender suas posições.

O Filho do Emílio, disse, em entrevistas e, no seu livro, que seu pai não sabia sobre as torturas, o exílio de intelectuais, as ações dos agentes da polícia política, a morte de políticos oposicionistas, a censura, nada. Descobri, então, de quem Lula copiou a cegueira conveniente. A quartelada de 64, na verdade, começou no dia 1º de abril, DIA DA MENTIRA, e virou ditadura explícita quando o general Costa e Silva assinou o AI-5, no dia 13 de dezembro: DIA DOS CEGOS. A cegueira metáforica nos mergulhou nos “Anos de Chumbo” da mais dura realidade.

Uma ditadura não é menos absurda que uma “democratura”. Se, de um lado, olhamos para os defensores dos militares; de outro, temos de olhar para os fanáticos pelo PT. Estamos enfiados até o pescoço na última. Desculpem o trocadilho infame, mas o Nicolas já está Maduro, o bolivarianismo à brasileira caminha a passos largos para a maturidade. Lula, o amigo dileto do Hugo Chaves, nomeou os “amigos” para os cargos mais importantes do judiciário. O STF, quase inteiro, saiu das hostes do PT. Em 64, Jango foi deposto, um “impeachment", na prática: deu no que deu. Estamos gestando a serpente. O ovo até parece bonitinho, inofensivo. O veneno está na lá.

 Manifestações, sim. Liberdade de expressão, sim. Abaixo a corrupção, sim. Não ao estupro dos impostos, sim. Mas, cuidado com essa história de "impeachment". Isso pode ser um tiro no pé. Dói. E muito.

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