O PISA PISOU

O PISA PISOU

 

(O BOCA DO INFERNO – VOU ERRAR POR CULPA DO PISA)

E o Brasil estacionou: uma jamanta, paquidérmica, uma múmia mal ajambrada. O Brasil é um grande sarcófago ou uma carroça puxada por uma mula ora manca, ora empacada. “Brasil: Ame-o ou deixe-o”. Slogan dos anos de chumbo, o de agora: “Vá brasileiro: ser americano na vida”. Limpar a merda deles, pintar a casa deles, entregar as pizzas para eles. Melhor entregar pizza lá, do que ser professor aqui.

E o Brasil varonil estacionou: esquálido, anoréxico, morto em vida, nessa vida severina. O Brasil sempre parado na esquina esperando o bonde. Os países ricos não param, esperando os carros elétricos com equipamentos de última geração: o que gera; o criador. O Brasil não gera, espera o próximo salvador da pátria. É o país que menos se desenvolve entre os BRICs, um conjunto de países que pretende sair da miséria. “Chupa Brics”: temos o congresso mais caro entre os países: daqui, de lá, de acolá. Ninguém não vai crescer como nós.

                O PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) pisou na nossa autoestima, se é que me entendem. PISOU em quem estava estacionado na esquina. Um tal não sei quem, inventou não sei o quê, que a galera adora, uma música: “Parado na esquina”. Os jogadores brasileiros de futebol fazem dancinha, porque a dancinha é um prodígio da invenção da nossa imaginação bárbara: inventamos a dancinha, em que não há dancinha.  O otário fica parado na esquina com a mão no queixo, com pose de magnata. Qualquer semelhança com o Brasil, não é mera coincidência. Mas, falta o bonde.

                O PISA deixou claro que estacionamos (não melhoramos, nem pioramos), continuamos pisando na merda. Ninguém se espantou com o resultado, como se tivesse nascido um coala em cativeiro. Alguns poucos se indignaram. Outros muitos não sabem o que é indignação. Nossos alunos não sabem o básico da matemática, muito menos o básico da língua portuguesa. O brasileiro lê, uma média, 10 páginas (olhe bem): 10 páginas por ano. Lembram-se daquela conta extravagante: os brasileiros comem um frango por mês? Na verdade, enquanto alguns comiam dois; outros não comiam nenhum. Simples assim, caro Watson.  

                Tenho alunos que prestarão vestibular para direito neste ano que nunca leram um livro na vida. O país pare analfabetos funcionais aos borbotões. Defendo a criação de um sistema de cotas para os que estudam para saber. Não adianta nada, mas posaremos de potência inovadora.

Observe essa minha absurda observação: serão juízes, advogados e promotores, quem sabe se tornem políticos e acabem no STF: tribunal bastião da “democratura” do nosso reino das antas, diz o PISA. Vamos mobilizar o nosso congresso para contestar o PISA.   

O Brasil possui mais faculdades de direito do que a Europa inteira. Caminhamos céleres para bater o recorde de faculdades de medicina. Mesmo assim, a injustiça e as burrices do sistema de saúde grassam nesse país de botocudos, como berrava Assis Chateaubriand em momentos de descontrole. Então, a prova da OAB é uma excrescência? É. Não é mais inteligente acompanhar alunos ano a ano do que os destruir no último ano do curso? Há cursinhos para a OAB dentro da faculdade. É mole? Não há o famigerado ENEM no final de cada ano? Não haverá o ENEMZÃO do Tarcizão que está abordo do pior secretário da deseducação, entre os piores secretários da deseducação do mundo? Por que, então, não façamos o DIREITÃO todo ano?

                E o PISA pisou no radicalismo brasileiro. O sujeito é radical por culpa da burrice, não por causa da sabedoria. Há gente confundindo escola com matinê de carnaval, confundindo bullying com bolinar, xingar com discordar. Escreveu Drumond: Cota zero “Stop. / A vida parou / ou foi o automóvel?”. Sábio Drummond. Você não entendeu? Sairá da Cota zero para a Nota zero.

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