PAI DE SANTO DOS VESTIBULARES

PAI DE SANTO DOS VESTIBULARES

 

 

                Tudo o que escreverei aqui, não servirá nada, o vício é maior que o juízo, meu caro aluno. Mesmo assim, leia, afinal o nada já é alguma coisa, para quem vai se entregar de corpo e estresse a um modelão de prova para o qual todo mundo tem até uma varinha de condão.

Nove entre dez textos, que chegam às minhas mãos, rezam a ladainha: a intervenção social culpa a péssima condição da educação por todos os problemas visíveis e invisíveis do país. Convocar o ministério disso ou daquilo ou o governo federal para fazer uma campanha de conscientização da população é o óbvio ululante. Mal sabem eles que o Brasil forma gerações de analfabetos funcionais, conscientizar é mais difícil do que chegar à Lua a pé.

Recebo todos os dias um caminhão de mensagens perguntando qual será o tema do ENEM. Meus caros e desesperados alunos, não sei, só sei que surpreenderá. Não fiz curso de astrólogo. Duvido de quem diz que sabe. Duvide também. Esse exercício de adivinhação é um projeto de incentivo à burrice coletiva. No Instagram “pipocam” os quiromantes (dicionário faz bem) e os oportunistas de plantão vendendo-se à custa disso. Alguns exemplos: o tema de 2019 foi “Democratização do acesso ao cinema no Brasil”; o de 2021, “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, o de 2022 “Desafios para a valorização de povos tradicionais no Brasil”. Alguém esperava? Duvido. Vou dar a dica mais velha que o rascunho da bíblia: “Prepare-se para qualquer tema. Evite surpresas desagradáveis”. Vestibulando não sabe lidar com surpresas, ela lhe tira o chão. E a escola não lhe ensinou a voar. A maioria das escolas, no máximo, adestram o indivíduo.

O maior problema do candidato desesperado por uma vaga na faculdade é o de não saber lidar nem com o inesperado nem com a concorrência. Qualquer surpresa traz a reboque o desespero e, em seguida, o pânico. Muitos deles não sabiam quais eram os “povos tradicionais”, muito menos “ler a coletânea”. E aí, como fica? Não fica. A página em branco é um desafio, com linhas pretas, então, vira prisão. Para muitos, prisão de ventre. Pandemia não é desculpa para não estudar, afinal faz tempo que foi oferecido o ensino presencial e semipresencial. E há alunos que não seriam aprovados de forma alguma, porque simplesmente não estudam de jeito nenhum. Contraditoriamente, grande parte dos que não aprendiam por culpa do ensino on-line, agora preferem o ensino on-line, para não terem que se deslocar. A alegação de que o aluno pós-pandemia é “imediatista”, não procede. Ele e a família sempre foram.

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