QUANTO VALE O CONHECIMENTO?

QUANTO VALE O CONHECIMENTO?

Ocorreu-me uma pequena história, ocorrida há tempos, que acho conveniente contar nesses tempos bicudos:

Um ex-aluno me perguntou se eu poderia fazer uma palestra sobre SUCESSO PROFISSIONAL. O nome do evento era deveras pomposo, contudo não havia verba disponível para pagar aos palestrantes. Eu teria uma grande vantagem, apesar de não ser remunerado, receberia um certificado, que poderia dar "peso" ao meu currículo. Ex-aluno é sempre aluno, não é? Para me convencer, expôs didaticamente as dificuldades de viabilizar um ciclo de palestras, como se eu não o soubesse.

Como não sou fã de palestras, mas gosto muito de debates, propus uma mesa redonda. Ele, então, me explicou: O tal evento era "engessado", não havia espaço, nem verba para mesas redondas. Insistiu na história do certificado, no tal "peso" ao meu, segundo ele, já vasto currículo. 

Agradeci a deferência. Quem não gosta de um elogio que não tenha sido ofertado pela genitora? Contudo, afirmei-lhe que eu não seria a pessoa mais indicada para falar sobre o tema. "Sucesso profissional", para mim, é algo um tanto relativo. Começamos um ligeiro debate, pois lhe fiz as perguntas que, volta e meia, me faço: Há um índice criado para medir o tal "sucesso profissional"? Se existe, qual é? 

Seria ele o fruto da riqueza amealhada pelo profissional ao longo das suas atividades? Possuir carrões? Apartamento em Mônaco? Passar férias na Europa? Fazer passeios na Disney? Usar roupas de grife?

Seria o fato de se tornar referência em determinada área, pura e simplesmente? Preocupação apenas com o próprio sustento? Satisfação em estudar para saber?

Ser famoso? Ser reconhecido nas ruas? Aparecer nas tevês, nas capas de revistas? Dar entrevistas? Viver sob os holofotes?

Escrever livros de "Auto-ajuda"? Vender um amontoado de fórmulas? Criar os tais "dez passos" para isso ou para aquilo ou para aquilo outro? 

Ser um idealista, reconhecido apenas pela dedicação ao trabalho, sem a preocupação de receber prêmios? Trabalhar visando o "bem" de uma comunidade? Acreditar no própro potencial para mudar?

Seria tudo Isso? Nada disso? Não sei. Mas, também, não vou me alongar em intrincadas teses sociológicas, econômicas, politicas etc etc etc. Nem em "achismos".

Perguntei-lhe também o motivo da escolha: Por que eu? Na avaliação subjetiva dele, eu sou um profissional bem sucedido, afinal tenho vasta experiência no meu campo de atuação, por isso capaz de entreter a plateia com as histórias de como me construí como pessoa e como construí a minha escola. Além disso, o meu discurso em sala de aula se coadunava com muitas das suas posições. 

Não me custava nada ajudar. Dizem os capitalistas narigudos, especialistas em fórmulas e teses: Tempo é dinheiro. É mesmo? Cartão de crédito ou pagamento à vista?

Comecei minha exposição, com honestidade: NÃO SEI O QUE É SUCESSO PROFISSIONAL.

SE VOCÊS VIERAM ATÉ AQUI EM BUSCA DE FÓRMULAS, DIGO-LHES QUE NÃO AS TENHO.

Propus duas reflexões: a) O ÓBVIO NÃO EXISTE; b) O QUE ME MOVE, É A DÚVIDA. NUNCA TRABALHEI COM FÓRMULAS PRONTAS. DUVIDEM DE TUDO, INCLUSIVE DE MIM.

A minha experiência não serve para vocês, o mundo de vocês é outro. Um mundo inimaginável para mim, quando eu tinha a idade de vocês. Vocês vivem dentro de uma pluralidade enorme. Há muitas coisas que podem facilitar, mas podem também confundir. Cuidado com as escolhas. Nunca imaginei passear pelas ruas carregando o meu telefone. Vocês já nasceram carregando até o seu computador. Aprendam a cavar suas oportunidades. A minha geração teve de cavar oportunidades usando outros tipos de pá.

Por incrível que me pareceu, fui até aplaudido. Fui até muito bem avaliado ao final do evento. Fiz o favor ao meu sempre aluno e aprendi muito com uma plateia muda: O que eu chamo de cidadão "papel higiênico". Nem um questionamento. Nenhuma dúvida. Virei o homem das verdades absolutas.

Dias depois, fiquei sabendo que alguns "figurões" foram "convidados" à custa de poupudos salários. Trouxeram todo tipo de assessoria. Hospedaram-se em hotéis de luxo. Deram palestras tediosas, como se explicassem a roda para quem já troca pneus. Saíram à francesa. Nem se preocuparam em levar para casa o tal "certificado".

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