CABEÇA RACHADA: REFORMULAR O  ERRO

CABEÇA RACHADA: REFORMULAR O ERRO

                Muitas questões estão em jogo na implantação de uma reforma educacional. O Marquês de Pombal, que o diga, quando, no século XVIII, sentiu a mão pesada de diversos setores da sociedade, ao resolver colocar em funcionamento a sua dita “Laicização da Educação”.

Devemos chamar a esse monstrengo de “Reforma Temer a temer”, “Reforma Mendonça Filho (de quem?)” ou “Empulhação da caneta (inconstitucionalidade)”? O que começa, em educação, com um olho no gato, outro na sardinha e ouvidos moucos não vai dar certo. Essa coisa nos foi empurrada goela abaixo, a toque de caixa, para desviar a atenção da sociedade sobre as leis espúrias que os Romeros Jucás da vida querem votar para livrar um bando de salafrários da cadeia.

            Meu primeiro ponto: O Brasil precisa, antes de uma reforma educacional carimbada em papel timbrado, para nos tirar dos últimos lugares dos programas internacionais de avaliação de alunos, ou seja, jogar para a torcida, construir creches e escolas nos bairros, para que um trabalhador não tenha que mandar um filho menor estudar em um bairro vizinho e o filho maior em outro bairro. Construir escolas nas áreas rurais e nas comunidades indígenas ou colocar lousas e cadeiras nas que “existem” para que o professor tenha as mínimas condições de ensinar. Se não for possível, pelo menos um banheirinho, vai! Meio de transporte adequado que o prefeito da cidade não possa usar como propriedade privada. Esse seria outro passo gigantesco.

Meu segundo ponto: Comecemos a reforma por pagar um salário digno aos professores, dar-lhes segurança para trabalharem, recuperar os espaços destruídos das escolas existentes, eliminar a indicação de diretores apaniguados, que não reúnem quaisquer conhecimentos sobre gestão de pessoas e de recursos financeiros. Já estaríamos dando um passo gigantesco.

            Meu terceiro ponto: Se o ministro não sabe ainda, devo informá-lo de que na maioria das escolas particulares do país, a maioria dos professores não fez qualquer curso de licenciatura ou e a maioria dá aulas de disciplinas completamente diferentes daquelas para as quais formaram, de que os melhores alunos das melhores escolas não querem ser professores de jeito nenhum, de que boa parte das universidades brasileiras contrataram professores no exterior, porque não há professores brasileiros aptos para dar aquelas matérias. Os ensinos fundamental e médio funcionam quase que da mesma forma, senão não funcionariam.

            A Reforma atual foi votada pela mesma camarilha que votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Depois daquele show de horrores, temos plena certeza de que eles entendem verdadeiramente de falta de educação.

            Ah! a reforma, ia me esquecendo. O ensino médio será dividido em duas partes: 60% da carga horária será formada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), 40% será composta pelas cinco áreas específicas: Linguagens e suas Tecnologias; Ciência da Natureza e suas Tecnologias; Ciências Humanas e Sociais Aplicadas; Matemática e suas Tecnologias; e Formação Técnica e Profissional.

O conteúdo da BNCC será definido até meados de desse ano pelo Conselho Nacional de Educação, após ouvir o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e a União Nacional de Dirigentes da Educação (Undime). A piada é que o presidente de uma canetada sem ouvir esses setores; sobre a população e os estudantes, nada.

Poderão fazer parte na BNCC (artes, educação física, português, matemática, física, química, biologia, geografia, história, filosofia, sociologia, espanhol e inglês). Português, matemática e inglês serão as únicas disciplinas obrigatórias durante todo o ensino médio.

O MEC, na sua imensa sabedoria, já projeta o ensino superior. No ensino médio, as escolas poderão optar por um sistema modular e também pelo sistema de créditos ou disciplinas com terminalidade específica, por exemplo, filosofia durar um trimestre e valer um número “X” de créditos. Esses créditos poderão ser aproveitados no ensino superior.

Previsão otimista: não vai dar certo. Os motivos são os mesmos mesmo pelos quais o ENEM não dá certo: as profundas distorções educacionais e sociais de um país tão grande, cujos recursos descem pelo ralo da corrupção. O governo promete investimentos de 1,5 bilhão, para colocar a cereja nesse bolo. Para o tamanho do Brasil, isso não corresponde a nada. Pior, não chegará 1/3 desses recursos a lugar nenhum. É pagar para ver.

Compartilhar: