Senhores pais  Deixem seus filhos crescerem

Senhores pais Deixem seus filhos crescerem

(Luiz Cláudio Jubilato)

Como educador, causa-me preocupação a maneira incisiva como os pais têm chamado para si a responsabilidade de resolverem os problemas que os seus filhos deveriam resolver. Na ânsia de proteger, tornam-se coniventes e até negligentes.

Ontem conversei durante um longo tempo, com um pai assaz preocupado com o filho que não consegue acompanhar os conteúdos ministrados em sala de aula: "Ele é inteligentíssimo, só é descuidado" - segundo o senhor. Até hoje não consegui decifrar o que significa ser inteligente. O pai sequer sabia explicar quais eram os conteúdos.

Os professores, coordenadores, psicólogos, diretores tentaram tudo o que era possível para identificar os problemas do garoto e assim poderem ajudá-lo, mesmo assim não conseguiram, o garoto prometia, mas não comparecia às sessões de terapia. Ao invés de procurar os professores ou coordenadores, preferiu pedir ao pai que o fizesse. Você não precisa nem ser uma cartomante para advinhar o que ocorreu. Nada. Ah! Desculpe, aconteceu sim: o moleque levou um senhor esporro, houve uma série de proibições, jamais levadas a cabo, como não poder usar o computador durante uma semana.

Outro exemplo: uma senhora ligou para a escola esbravejando, porque o filho não conseguiu um horário para assistir a uma determinada palestra, no entanto, como ele tinha várias atividades durante o dia, ela não sabia responder em qual horário ele poderia ser encaixado, já que a escola abrira dois novos horários. O jovem parou na secretaria e a secretária o avisou de que novos horários seriam oferecidos. Ele preferiu deixar que a mãe ligasse para resolver um problema que não havia, bastava um watsaapp ou um telefonema e tudo seria feito da forma mais simples possível.

Atitudes de pais resolvendo problemas de filhos têm ocorrido com tanta constância que professores universitários reclamam insistentemente de que, cada vez, alunos extremamente infantilizados, chegam ao primeiro ano da graduação.

Agora têm vida própria e sofrem com o inesperado. Nunca tiveram vida. Nunca viveram fora do casulo ou debaixo das asas da mamãe. locais onde se sentiam protegidos.

A adolescência se prolongou. Universitários(as) se dizem tão pressionados(as) que, para fugirem da pressão, mergulham nas festas regadas a drogas e bebidas, que motivaram acidentes, "overdoses" e suicídios.

As posturas infantiloides, com seguidos vícios e desastres, fez surgir um movimento de pais desesperados, sempre eles, #DaUsppraCasa. A USP, dentre outras universidades, abriu um departamente de psicologia para pais e alunos. Houve suicídios ou tentativas nos últimos anos, devido à depressão, estresse e drogas.

Vou além: o estresse e a depressão grassam entre os pré-vestibulandos a torto e a direito, as bebidas e as drogas também. Por quê? Porque, dentre outros fatores, um é determinante: Será a primeira vez nas suas vidas que o pai ou a mãe poderá resolver um problema por eles.

Nos EUA, essa interferência constante dos pais se estendeu para a vida profissional dos filhos. Pais interferem até mesmo nos salários deles. Essa situação exdrúxula foi objeto de estudo de várias empresas e universidades.

As conclusões:

Primeira: preocupação demais é tão ruim quanto preocupação de menos, pois cria filhos mimados incapazes de tomar atitudes diante das novas exigências da vida moderna;

Segunda: prolongamento exagerado da adolescência, com suas devidas crises existenciais. "A diferença entre Deus e o mercado é que Deus perdoa";

Terceiro: a vida moderna, impulsionada pelo algoritmo, exige atitudes imediatas;

Quarto: depressão e ansiedade têm levado jovens a atitudes extremas. Estamos na pandemia emocional.

Há exceções? Claro.

Aqueles que

a) tomam as rédeas da vida nas próprias mãos. Pedem ajuda dos quando jamais foram coniventes com suas ações.

b) aprenderam a diferença entre se aconselhar e depender.

c) analisam suas habilidades e competências para enfrentar um mundo repleto de possibilidades. Entendem que fracasso e sucesso são relativos.

d) procuram um profissional da área de psicologia, quando estão se autossabotando.

e) têm plena consciência de que são reféns das suas escolhas.

f) divertem-se, aproveitam as possibilidades da sua juventude sem arriscarem suas vidas: esse é um ponto crucial.

g) traçam metas exequíveis para não se frustrarem.

Espero, sinceramente, ter ajudado.

Obs.: Conheço alunos que não se adaptaram ao ensino remoto, mas, no ensino presencial, sempre estiveram "no mundo da lua". O problema não era o computador, os problemas são...

Compartilhar: