SUCATEAMENTO DA MEDICINA

SUCATEAMENTO DA MEDICINA

Dá medo. 
A cada dia brota uma faculdade de medicina na esquina. "Brota" é a palavra. A qualidade? 
- Hã! Deixa esse troço de qualidade pra lá, meu negócio é entrar. Virar médico, depois eu vejo o resto.
- Mesmo se você virar um ratinho de laboratório, porque há um monte de faculdades caça-níquel, sem estrutura nenhuma, sem um hospital-escola, nada.
- Não vou mais fazer cursinho de jeito nenhum, vou pra onde eu passar. Meu pai me disse que o importante é a residência.
- Você conhece algum aluno com má formação que entrou em uma "boa" residência?
- Conheço um que tá ganhando a maior grana, se deu super bem e a faculdade em que ele se formou não é lá grande coisa.
- E daí a 6 anos, com um mercado tão competitivo, como você vai fazer?
- Daqui a 6 anos, penso nisso. Eu me viro. Dou um jeito. Vou estudar o que eu gosto.

Esse discurso virou senso comum. O sucateamento da profissão é inevitável. O "status" de ser médico, ganhar muita "grana" virou obsessão. E pior, foge dos ditames da profissão. Lógico que ganhar dinheiro é uma prerrogativa importantíssima, ninguém vive de brisa ou trabalha por diletantismo. Mas, a que preço?
Uma antiga faculdade de Ribeirão Preto deu como tema de redação: "Por que você quer ser médico?" Muitos alunos, na saída do exame, reclamavam do absurdo: "Veja se isso é tema de redação?"
- "No tempo do meu pai", a relação candidato-vaga era outra, o número de faculdades "caça-níquel" era outro, o mercado de trabalho era muito mais seletivo.
As sucessivas provas do CREMESP mostram uma realidade assustadora. Em média, nas várias provas aplicadas nos últimos anos, alunos do sexto ano não conseguiram diagnosticar sintomas de doenças comuns em um país tropical.
Cursar USP, UNESP ou UNICAMP virou sonho distante. Pensar nisso provoca urticária (erupção cutânea caracterizada pela presença de placas congestivas pouco salientes e pruriginosas - segundo o dicionário), ansiedade e depressão. Não que elas sejam as únicas que valem a pena cursar. 
Não há como relacionar aqui as grandes faculdades particulares que investem nos alunos, em equipamentos etc.
Mas que dá medo, dá, do que vem por aí. 
A região que corresponde a um raio de 100 km de Ribeirão Preto formará, mais ou menos, mil médicos por ano. Só em Ribeirão Preto há quatro faculdades medicina.
Temos mais faculdades de medicina do que nos EUA. E a qualidade? Onde tanta gente trabalhará? Nas UPAS? Haja UPAS... E o salário? Ah! o salário...

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