TEMPO

TEMPO

Houve o tempo das abelhas das borboletas, das aroeiras, dos ipês, dos bambus, com suas raízes entranhadas na terra, plantadas pela espontaneidade da natureza, das águas correndo soltas em cima dos paralelepidos, quando caíam as chuvas, adubando o chão.

Tempo das entregas de leite em garrafinhas, máquinas de escrever, das cartas escritas com a identidade das assinaturas, dos abraços, dos carnavais com lança-perfumes, amores eternos até quarta-feira.

Houve o tempo das ideias, dos ideais, das mentiras fabricadas como verdades e das verdades tornadas mentiras, das amizades que viraram amor e dos amores que se tornaram realidades.

Houve o tempo do beijo dos amores eternos, o beijo dos amores internos, os beijos dos motivos sem motivos, os beijos que se tornaram ficção.

Há tempo dos tormentos e das tormentas, o tempo dos tormentos e arrependimentos, o tempo que muda uma vida, os tempos que, mesmo esperados com sofreguidão, nunca virão.

Há as bandeiras içadas, das bandeiras queimados, das bandeiras que dizem nada, nem nunca dirão, dos gritos de raiva, dos gritos de medo, dos gritos de porrada, dos gritos de morte, dos gritos de entrega, dos gritos de solidão.

Há o tempo dos fracassos vitoriosos, das vitórias fracassadas, dos fogos de artifício, do céu colorido de onde não despencava a chuva ácida, só rugia o trovão, havia gente, havia comunhão.

Há o tempo marcado de Kronos, tempo de todos nós, o instante do carpe diem , o tempo de Kairós, o tempo que fabricamos, o tempo do qual fugimos, o tempo dos noz, o tempo do coração, o tempo que nos diz: Não.

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