Zero Zero Zero

Zero Zero Zero

Roberto Saviano caminha. Esconde-se. Voa. Esconde-se. Corre. Esconde-se. Casou-se com seus "seguranças". Não passa de um morto vivo. Carrega sua não vida por todos os países pelos quais passa. Não fica. Perigo. Sua quase vida resume-se a uma sucessão de fugas. Perigo. Mantém-se lúcido, denunciando. Perigo. Não deve. Perigo.nSeus irmãos não podem andar pelas ruas, sem servir de chacota para os alienados e/ou escravizados e/ou dependentes dos capos da máfia. Sabia disso. Os pais do "heroi" jornalista ou do jornalista "herói" são ridicularizados por onde passam. Sabia disso. Não teria uma mulher, filhos, netos. Sabia disso.

Saviano mexeu em imensos vespeiros. As vespas o querem esfolado, queimado, estropiado, desde que ninguém se lembre de sua cara dias depois da sua morte. O escritor expôs as entranhas da Cosanostra, da Camorra, da prostituição que permeia a relação gangsters - justiça, gangsters - poder político na Itália, nos países capitalistas, nos socialistas, em quaisquer "istas": "Quem detém o controle do cimento, detém o controle do poder". Quem controla o porto de Nápoles, controla o Comércio, controla os grandes magazines, controla as grandes marcas, controla o mundo fashion, controla o mundo ching ling.

Sua obra mescla jornalismo com literatura - literatura com jornalismo. Depende da ótica. "Gomorra", obra magistral, virou peça teatral e, em seguida, filme, por sinal premiado no Festival de Cannes. "A beleza do inferno", segundo livro, expõe a ferida purulenta da máfia chinesa e suas relações com o capitalismo rolo compressor."Zero Zero Zero", última obra lançada no Brasil, provoca nojo, raiva, sensação de impotência. Dá um tapa na cara do leitor quando escancara, sem pudor, o funcionamento da máfia das drogas no México. Como os capos detêm o "caráter" das autoridade nas suas folhas de pagamento.

Saviano tem medo: o de ser desmoralizado; de ter a sua obra enxovalhada. Seu medo se justifica. A melhor defesa de um condenado é desqualificar quem o acusa. Roberto não tem cara, nem físico e muito menos pretende ser herói. Só quer, como todo escritor, ser lido, compreendido, sem meias palavras. O resto é resto. Perguntam a ele se se arrepende de denunciar a presença e o crescimento desses cânceres nas mais diversas sociedades. Ele afirma que faria tudo de novo, mesmo com o preço alto que paga: arrastar pelo desconhecido a sua imensa, incontornável solidão.

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