AO MENOS CINCO MINUTOS INSPIRADOS EM "MARCELO, MARMELO, MARTELO".

AO MENOS CINCO MINUTOS INSPIRADOS EM "MARCELO, MARMELO, MARTELO".

        Por provocação consciente, inquietação permanente e, até, diversão (im)pertinente, nesse texto justificarei de forma prática e clara o nome desse blog. “Sabatina”, segundo uma das definições do dicionário, significa “questão ou debate; matéria que se pretende discutir”. E quero acreditar que cada indivíduo desse pedação de chão - mesmo que, infelizmente, nem o chão e o teto sejam para todos - pretenda continuamente debater e discutir sobre algo. Algo que instigue, incomode, que faça crescer e aparecer e, consequentemente, viver. Do contrário, não havendo desejo pelos pontos de interrogação, exclamação, vírgulas e reticências, os travessões serão encerrados sempre por um ponto final, muito constantemente sem lógica, contexto e sentido. Pontos finais forçados e precipitados. Pontos finais que, em última instância, fazem cada indivíduo se apequenar na vida e, por vezes, desaparecer. O desaparecimento da alma de seres humanos, frequentemente, é precedido pelo desaparecimento dos “por ques”, cuja força renovadora de paradigmas e realidades é inigualável. Então, proponho e, por isso, a partir de agora darei continuidade ao uso do ponto de interrogação e outros mais que não sejam equivalentes  à um ponto final…

        Por que é propagandeado o lema “país de todos”, enquanto se acredita em uma tese pela qual panelas são formadas por nós x vós x eles? Por que é empregado o termo “pátria educadora” se o conceito da palavra educação não é, essencialmente e amplamente, valorizado no Brasil, ficando o mesmo reduzido à força, seja financeira, física ou bélica? Por que inúmeros políticos ainda ousam usar a palavra gestão, se é noticia repetitiva a irresponsabilidade fiscal e administrativa? Por que é aceito, como se fosse regra geral de mercado, que a escolha de nomes para pastas específicas - municipais, estaduais e federais - seja política e não técnica? Por que a fácil aceitação geral quando decisões políticas suplantam decisões técnicas? Por que o direito de se manifestar ou se mobilizar por determinado ideal é chamado de golpismo pelo poder oficial, se na história recente brasileira a situação era oposição e também gritava “fora” para tudo que não fosse ela própria ou espelho? Por que é considerado louvável, humanizado e viável, supostamente, querer minimizar ou eliminar qualquer forma de segregação com mais segregação (seja de gênero, racial ou social)? Por que se acha coerente o combate à violência ser baseado em mais violência? Por que se define sensato e dialético contrapor argumentos com armas e cacetetes? Por que administradores públicos e populares entendem a coisa pública como privada ou de ninguém? Por que “representantes” eleitos pelo voto popular têm o direito de não responderem ou mesmo receberem à quem os elegeu, quando procurados, inclusive, emergencialmente? Por que em um país dito livre tal liberdade não alcança a decisão de sair ou não de casa para votar? Por que esses mesmos “representantes” do povo são chamados de “vossa excelência” e o próprio povo não o é, embora o verdadeiro - mas ainda desapercebido e mal usado -  poder seja do povo? Por que é definido como normal pagar por um serviço, público ou privado, e não o ter em perfeito funcionamento, como também, ainda ter que se contentar com isso? Por que as conversas de meias palavras são tão estimuladas por aqui ainda que já se conheça a necessidade e benefícios de um diálogo claro e esclarecedor? Por que a análise financeira dos fatos quase sempre se sobrepõe às outras análises, notadamente, a ética, moral e humana? Por que inúmeros compatriotas ainda querem acreditar na falácia de serem dependentes, ideologicamente e comportamentalmente, de ídolos forjados à base de pronúncias carregadas dos erres e outras letras, seja no inicio ou fim de seus nomes, durante noites e tardes dos dias da semana e finais de semana? Por que tanta insistência na hipocrisia de que “a esperança venceu o medo” se é quase regra bocas se calarem e olhos se cegarem para que sejam  evitadas ameaças e retaliações diversas? Por que tantos “por ques” são banidos das rodas de conversa,deixando a entender, perversamente, que louco e inconveniente é qualquer pessoa que insiste em resgatá-los? Por que o ponto de interrogação é relacionado, quase sempre, com impertinência ou incompetência, e não com desejo de conhecimento? Por que o ponto final é tão supervalorizado e, indiscriminadamente, usado, mesmo quando o conteúdo para o qual se esteja afirmando, na realidade, é indiferente para quem o afirmou? Será que, tanto quanto o ponto final, as aspas também estejam sendo empregadas para tudo e todos, acima da mentira e da verdade?

         Já disseram, durante os capítulos da história, que as perguntas fundamentais se referem às nossas identidades, nossas origens e nossos destinos, tal como um esquema lógico e básico para a sobrevivência e desenvolvimento humano. Entretanto, não são raras as ocasiões nas quais são dispensados a coerência de raciocínio e verbalizações. Isso percebido, lamentavelmente, tornam proféticas as palavras há muito cantadas: “ninguém respeita a constituição, mas todos acreditam no futuro da nação…”. Estaria, desse modo, Thomas Hobbes correto em seu pensamento sobre o Homem? Não seria fantástico, libertador e útil que todo dia tivesse um ar de terceiras quintas-feiras de novembro?

 

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