ARGUMENTAÇÃO NÃO É PUXADINHO!!!! MAS, A COMPETÊNCIA A SER DOMINADA PELOS BRASILEIROS.

ARGUMENTAÇÃO NÃO É PUXADINHO!!!! MAS, A COMPETÊNCIA A SER DOMINADA PELOS BRASILEIROS.

      Um cuidado fundamental a ser tomado por quem se aventura na defesa de uma tese, seja por meio da escrita de um texto - especialmente o dissertativo - ou verbalmente, é o uso de argumentos, minimamente, plausíveis. Sendo dois objetivos possíveis e principais das defesas - convencimento ou simples exposição coerente - a qualidade argumentativa é meio inevitável para obtenção de êxito, na medida em que será ela o que determinará a validade da tese proposta. E tal qualidade está associada, basicamente, ao nível de realidade que contém. Entretanto, ainda que a realidade seja multifacetada, não é aceitável usar tal característica como disfarce para a distorção conveniente da mesma, no intuito de argumentar a favor do injustificável. O nome dessa tentativa equivocada é manipulação. Dito isso, o que é possível esperar de cenários manipuladores, presentes ou futuros, construídos sobre argumentos sem “tanta” plausibilidade? Argumentos pelos quais apenas duas opções se tornam viáveis, afim de ser preservada a sanidade mental: rir ou chorar. Pois, sobretudo, são argumentos sofríveis de acreditar

      No dia primeiro de fevereiro de 2016, o site da Folha de São Paulo trouxe matéria na qual o advogado Nilo Batista, responsável pela defesa do ex-presidente Lula, disse que seu cliente é “achincalhado por coxinhas”, e que “o combustível nesse processo de achincalhamento é os coxinhas não admitirem que um operário possa comprar um tripléx”. Independentemente de quais seriam ou serão os desfechos de eventuais investigações e processos, é esse um bom e plausível argumento - ainda que extraoficial - adotado pela defesa do conhecido político? Há pontos na fala do digno profissional que, genericamente, parecem apresentar frágil sustentação. Desse modo, ousando oferecer contra-argumentações, de forma respeitosa e objetiva, para a argumentação do Dr. Nilo Batista, é possível citar, primeiro: em geral, operários metalúrgicos, que hoje ganham em média R$ 3.400,00 (provavelmente, seus colegas tinham menor poder aquisitivo nas décadas passadas), dificilmente possuem condições, via seus salários, de possuírem imóveis de frente para o mar, avaliados em, aproximadamente, 1 milhão de reais. Lembrando que a região da Grande São Paulo, historicamente, aparece nas primeiras posições dos rankings sobre custos de vida (do mais caro para o mais barato); Segundo: partindo do fato óbvio que Lula não foi, somente, operário, apontando para exercício de outras funções e também aparente e previsível ascensão social, não há mais qualquer sentido na tentativa de qualquer pessoa em querer conectar a imagem de Lula à classe operária. Afinal, provavelmente, são incongruentes os estilos e condições de vida de um operário e do ex-presidente (e, possivelmente, não é de hoje…); Terceiro: em função da segunda contra-argumentação, é conceitualmente e socialmente razoável caracterizar Lula e sua família nuclear, ao menos atualmente, como burgueses. A não ser que o ex-presidente e entes queridos sejam desprovidos de quaisquer bens materiais, principalmente, os que constituam meio de produção. Fazenda produtiva ou empresas, independentemente de suas envergaduras, então, nem pensar…; Quarto: considerando a terceira contra-argumentação, coxinhas atacando o ex-presidente, provavelmente, seria quase ato de “antropofagia social”, não sendo possível saber com certeza quem se sente atingido com o uso dessa expressão; Quinto: se na insistência de considerar o ex-presidente um operário, seria muito útil entender - isso valendo, principalmente, para seus partidários - qual é, de uma vez por todas, a filosofia sócio-política acreditada e simbolizada por ele, pois, a partir daí, seria assimilado, mais claramente, o projeto de governo atual. A ideia é simples: Lula ainda sendo operário, possivelmente, significa, sociedade estamental. Lula para sempre operário, provavelmente, significa, sociedade de castas. Teria o Brasil um desses tipos de organização social???; Sexto: qualquer um que opta pelo uso de termos pejorativos, em discussões de elevada importância para os rumos de uma nação, e alega ser concordante com a concepção de nação forte e unida, deve, urgentemente, rever seus conceitos gerais mais íntimos, pois, tentativas de ofensas são divergentes de tentativas de conciliação. Normalmente, quando há ofensa há, também, ruídos de comunicação e rupturas de entendimento.

      Não se trata, nesse texto, de afirmar haver ou não a posse ou a reforma de imóveis por parte de qualquer cidadão. Para isso, logicamente, existem as instituições competentes, que, em algum momento, esclarecerão os fatos. Mas, a argumentação coerente é condição sine qua non para a habilidade de comunicação em qualquer tempo, em qualquer meio, em qualquer circunstância. Dispensá-la pode sugerir desrespeito para com a capacidade de raciocínio de alguns espalhados pelo território nacional. Cazuza, em uma de suas famosas canções, bradava palavras como “a burguesia quer ficar rica...eu sou burguês, mas eu sou artista, estou do lado do povo, do povo…” Acreditariam, alguns políticos, serem, similarmente ao que cantava o poeta morto, apenas bons burgueses, os quais são como operários??? Entretanto, não é demais lembrar a contradição contida nessa suposta crença, a qual está no fato de que, segundo notícias do presente, muitos estão desconstruindo o país - bem como suas instituições - ainda abandonando-o, por e com malas - e outros  acessórios - apinhados de dólares.                     

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