AUTENTICIDADE É SAÚDE!!! ATESTADA POR HEIDEGGER E O TEATRO.

AUTENTICIDADE É SAÚDE!!! ATESTADA POR HEIDEGGER E O TEATRO.

Na mídia brasileira, seja ela do tipo que for, encontramos tantas más notícias - cujos conteúdos apavoram, enojam ou geram descrenças profundas - que resolvi, por meio desse texto, propor uma mudança de “vibe”. Afinal, nada mais transformador do que a modificação do olhar, mais especificamente falando, mudança da direção do olhar. Novos cenários se descortinam, abrindo a mente para possibilidades antes não notadas. Por isso, não estou tentando, por meio dessa ideia, tapar o rei sol com uma insignificante peneira “pasteurizada”. Estou apenas considerando ser possível que os raios de sol iluminam, também, o que já brilha naturalmente, tornando tal brilho ainda mais intenso, a ponto de ofuscar a escuridão causada pelo afunilamento conceitual, aumentando a visibilidade e crença em tudo que for luz.

Em um dos diálogos com um estimado amigo - Gutemberg Fernandes (Coach e Constelador) - o mesmo expôs uma ideia muito interessante sobre os sentimentos humanos, especialmente sobre o Amor. Entretanto, sobre o Amor em estado Puro, Pleno. Não um suposto amor que, na realidade, nada mais é do que a confusão com outros sentimentos disfarçados de Amor, tal como o apego, a paixão, o orgulho, etc. Amparado por suas considerações e filosofia, disse ele, durante aqueles preciosos minutos, que o Homem, ainda, só é capaz de experimentar apenas frações do Amor real. Tanto que, inclusive, descreveu de forma muito perspicaz algumas reações, físicas e psicológicas, oriundas dessa privilegiada e sublime experimentação humana. As pernas bambearem, o fluxo de emoções profundas que inebria a mente, o estado de graça, o ápice da espontaneidade, etc. Ou seja, segundo a análise desse amigo, o Homem, por estar em franco desenvolvimento geral, ainda não possui estrutura para viver de forma contínua e essencial o Amor Pleno, na medida em que a força desse sentimento é imensurável. Entretanto, de forma óbvia e clara, suas palavras não fizeram a defesa de que a Humanidade, por ainda não ter tal estrutura, não deva se esforçar no constante exercício em busca do Amor Pleno. Pelo contrário. Esse exercício Amoroso constante está voltado, precisamente, na direção dessa estruturação. Assim, após tal conversa, e partindo do exemplo do Amor, comecei a refletir sobre a autenticidade de todas as nossas expressões sentimentais e, consequentemente, de nossos comportamentos sociais. Será que o Ser Humano não tem, ainda, condições de ser, essencialmente, autêntico e se acostumar com a “bambeira das pernas”? Logicamente, não se trata de uma reflexão simples e, muito menos, breve. Mas, ainda que seja uma reflexão ampla, não perde sua utilidade e, por que não dizer, sua urgência em iniciar e se manter. O fato é que já tem gente por aí não somente refletindo, mas também se arriscando no que pode ser considerada a prática da autenticidade essencial.

Muitos já devem ter visto um vídeo idealizado pelo Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), em ação especial para o Outubro Rosa, no qual alguns artistas foram, supostamente, convidados para um ensaio fotográfico. Entretanto, na realidade, a protagonista da campanha era a diretora de cena, Meran Vargens, uma sobrevivente da doença. A ideia central da campanha foi retratar a reação emocional de quem fica frente a frente com o câncer de mama. Pronto!!! Um exemplo a mais confirmando a observação analítica do meu cliente. A espontaneidade e autenticidade emocional dos artistas após a revelação da real intenção da campanha são dignas de encantamento, que somente o mais profundo e fidedigno sentido de humanidade pode proporcionar. Estavam ali pessoas demonstrando sentimentos sem censuras, em estado bruto (embora, ainda em fração). E, nota-se, nitidamente, o quanto é bom e libertador!!! O quanto expressar o que está, de fato, na alma e que é traduzido pela cabeça é saudável. O quanto se expressar de verdade é saudável!!! A arte do Teatro exemplifica e justifica tal afirmação, pois, a mesma desenvolve e comprova a importância da expressão autêntica de sentimentos para as relações intra e interpessoais. Heidegger - filósofo alemão - dizia que sem a autenticidade a alienação se estabelece, provocando, inclusive, a desumanização. Desumanização porque o indivíduo deixa de ser ele mesmo para ser o que qualquer outro algo quer que ele seja. Daí entende-se o motivo pelo qual a falta de autenticidade é patológica, pois, sem dúvidas, há na alienação uma violência contra a própria natureza. E violência contra a própria natureza significa, em resumo e em algum prazo, morte. Quantos são os que dizem, pelos becos e avenidas da vida, que a pior morte é a que acontece enquanto ainda há respiração? A alienação, portanto, é o meio mais eficaz para a geração de mortos vivos. Mortos que andam, mas, sem qualquer rumo. Mesmo que viver não seja preciso, contrariamente à navegação, para manutenção de saúde e desenvolvimento da existência é necessário o mínimo de orientação autêntica enquanto em oceanos intermináveis de ideias e atitudes. Quando assim não é, a artificialidade da vida gera um colorido difícil de acreditar, em função de tons esquisitos tais como os dentes brancos forçados.

A habituação, não raramente e, pelo menos, temporariamente, define o Homem. Portanto, a partir dessa constatação, a vida se torna simples questão de escolha de hábito. Presencio libertações diárias no divã, conquistadas no decorrer do doloroso escancaramento emocional do ser humano postado na minha frente. Libertações cujos significados podem ser definidos pela expressão “resgate de si mesmo”. E o que é esse resgate senão o da autenticidade? Enfim, escancaramento emocionais exigem coragem sim. Esse é o meio. Não justifica, verdadeiramente, o fim?

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