Famintos e necessitados de folhas e cascas.

Famintos e necessitados de folhas e cascas.

Em época tipicamente seca, na qual a paisagem se torna amarelada, há uma beleza cuja contemplação é inevitável. Seus 15 metros médios, copa frondosa e cor exuberante aliviam a sensação visual pálida pouco empolgante, característica do cenário climático atual. Essa é a árvore denominada “Ipê Rosa”. E, a mesma ainda apresenta outras possibilidades de benefícios: por meio do uso de suas folhas e casca, pode-se tratar tumores, infecções, algumas doenças oftalmológicas, entre outras. Isso tudo, repetindo, mesmo sem muitas gotas de água caírem do céu. Então, pode-se dizer que, mesmo em meio à seca, o belo surge, domina, alegra e, em vários casos, cura. Porém, ainda que, temporariamente, extasiados pela natureza seca rosada, não existem Homens que desejam a ausência ou redução definitiva da água. Pois há, indiscutivelmente, em seu tempo próprio, necessidade da paisagem esverdeada e colorida, dona de outros potenciais para nutrição da vida, a qual fecha o ciclo de equilíbrio indispensável para a continuidade e evolução do grande sistema que possibilita toda existência. Fica, desse modo, óbvia a percepção de que não há “elemento único” que seja capaz de prover e garantir saúde e desenvolvimento pleno. A natureza é sábia e simples em sua essência sistêmica, e, portanto, reage, por vezes, punitivamente, quando se insiste em tentar ignorar e distorcer sua característica mais essencial: colaboração. Um dos exemplos de “punição” é a própria seca física, inicialmente mencionada, que ocorre também em função dos rompimentos de equilíbrio promovidos pela ação humana inconsequente. E, agora, na esfera político-social está se reiniciando o exemplo cabal de ruptura do natural, e de maior influência para agravar o “conjunto da obra” vigente. Mais uma vez, o período é muito propício às distorções sociais, sejam filosóficas ou comportamentais. Portanto, o quê, naturalmente, esperar no futuro de curto, médio e longo prazo???

      Ligar rádio ou TV no horário da propaganda política significa exposição, muitas vezes, ao contato direto e claro com todo tipo e nível de distorção do natural funcional. Consequentemente, nesse momento, é muito comum a experimentação da mais densa seca ideológica/ comportamental, sem haver, ao menos, qualquer elemento frondoso (leia-se original, coerente e funcional) para aliviar olhos, ouvidos e mentes . Performances teatrais nonsense, pieguices múltiplas, frases de” efeito ineficazes”, argumentações decoradas, olhares e tons ludibriadores, lições oriundas das cartilhas marqueteiras, etc. Basicamente, a propaganda eleitoral se tornou, em grande parte, um parlatório de palavras secas e quebradiças, as quais se perdem no tempo e pelo vento da História. História essa que, posteriormente, fica forrada por atos de ganância, os quais, se e quando descobertos, só estimulam o baixar de cabeças (mas, quase sempre, com sorrisos de canto de boca) em busca de proteção de identidade, pela cobertura providenciada por camisas e suas gravatas. E, não! Provavelmente não há ou haverá qualquer sinal de frescor que possa ser sentido a partir dos QGs partidários. Nota-se, sem exigir grande sensibilidade, que muito do “odor” oriundo de várias campanhas políticas é bastante similar ao bafio. Isso porque, diversas ideias políticas não passam de concepções fechadas e restritas aos interesses de quem as formulou ou para quem, temporariamente, serão convenientes, exatamente, por serem pouco arejados os ambientes para a formulação de novos conceitos. Novos conceitos, inclusive, que deveriam ter caráter mais comum a todos que, autenticamente, estão tão interessados em seus próprios desenvolvimentos, quanto ao desenvolvimento geral. A primeira ideia é e sempre será dependente da outra. No entanto, essa dependência fica, perigosamente, relegada ao exílio filosófico e, portanto, desacreditada na prática. A “pluralidade conceitual partidária” aparenta ter ficado mais a serviço do desejo pelo poder por parte de siglas, do que pela realização da necessária dialética construtiva. A dialética cedeu posto ao “absolutismo amparado em pseudo-paz e amor”.

A beleza do Ipê não oferece júbilo, somente, a grupos específicos que lhes são simpatizantes. Ele é ofertado a todos que queiram oferecer seus tempos e energias para olhares mais atenciosos, cuidadosos e detalhistas sobre a conduta e dinâmica da Mãe Maior que, além de ensinar, tem inigualável capacidade de restaurar e conciliar. É uma pena a tamanha dificuldade de se enxergar que, diferentemente do Ipê, os futuros eleitos nas urnas não terão, naturalmente e isoladamente, propriedades antissépticas e capacidade de eliminação de tumores intencionais. O Brasil pode correr o risco sério de colapso por septicemia.       

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