Isenção?! Valorização de 1% já demonstra incoerência.

Isenção?! Valorização de 1% já demonstra incoerência.

     Não se deve se desobrigar - porque a obrigação de verdade é saudável, leve, espontânea e tem motivação íntima- a ter uma postura em relação à pátria. Não se deve se sentir ou, muito menos, querer ser dispensado dos debates - métodos tão preciosos de germinação de ideias e comportamentos - sobre o contexto geral do Brasil. Não se deve se eximir de responsabilidades para com o dia a dia da nação, em cada detalhe que tais responsabilidades possam significar. Portanto, não se deve se isentar de cidadania. Então, funcionalmente, não é interessante haver quem incorpore o que, de forma pejorativa e interesseira, foi denominado “isentão”, pois, a palavra isento, no dicionário, tem todos esses significados anteriormente referidos. Menos ainda, alguém deva ser parte integrante do que se acusa, politicamente, ser massa de manobra. Ou indivíduo pensante é somente aquele que concorda, exclusivamente, com teoria A, B ou C? Absolutamente...Afinal, essa precipitada adjetivação chega a ser ofensiva. Apenas, em função de olhar histórico e social, pode-se não considerar viável, em meio à tanta balbúrdia, mentira e trapaça cujas durações são bem mais longas do que os anos de várias gerações, abraçar causas moduladas por interesses que, em origem e essência, são desconhecidos, traiçoeiros, limitantes, parciais e autoritários. Interesses que se travestem dos “ismos” dos livros sociológicos, antropológicos e psicológicos - tornados sufixos de radicais como “social”, “capital”, “feminino”, “macho”, etc. Porém, por detrás dos panos desse teatro mambembe, no qual sobram horrores, o radical “ego” é a pele, carne e osso tangíveis e reais dos fatos. Fica, assim, estabelecida a seguinte questão: quantos definem suas linhas de raciocínio pela direção, imparcialmente, analítica, mas, jamais isenta? Não há isenção possível. E, havendo a tentativa de, não será livre de consciência pesada. Há, somente e ao menos, tentativa de ressurgimento e fortalecimento do humanismo. Ainda que, tresloucadamente, títulos, gravatas e bravatas insistam em questionar e oprimir a humanidade de si mesmos e cada um. Como ficar isento?

     Vinte e três vezes cantando “adeus ano velho…”, mas...feliz o quê? Até então, a esperança sustentável sempre foi um grão descartado, pelas mãos de muitos, impedindo-a de ir para essa continental panela de pressão, de modo a, genuinamente, aliviá-la e dali resultar em algo palatável e saudável. Improvável negar que a celebração brasileira, entra ano e sai ano, continua sendo referente à “covardes, estupradores, ladrões, nossa desunião, tristeza, vaidade, mortos nas estradas, falta de hospitais, (in)justiça, ganância, difamação, preconceitos, votos dos analfabetos (inclusive dos que “sabem” ler), impostos, queimadas, mentiras, sequestros, cartas marcadas, trabalho escravo, hipocrisia, afetação, roubo, indiferenças, epidemias, inveja, intolerância, incompreensão, violência, não ter direito a nada, aberração, falta de bom senso, descaso por educação”. Mas, não há qualquer torcida campeã, pois é ausente mínima glória em tudo isso. Russo e suas profecias. Após quase  duas décadas e meia, já foi aviso suficiente para tentar evitação de, no mínimo, algumas de tantas mazelas. E, embora possa aparentar, não existe qualquer metáfora em todas essas palavras. É literal. O povo brasileiro, por décadas a fio, as chancelou. Cinismo ou ingenuidade é discordar disso. Desse modo, inexiste imprevisibilidade na cultura do estupro, pois a ela se junta às culturas do corpo, do sexo e do alfa, as quais são bem anteriores. Não há imprevisibilidade na cultura do machismo, pois ela se alimenta nas culturas da subjugação e dependência social - disfarçadas de traço cultural brasileiro, alardeado por admiradores(as) de safadões -, bem como do biológico estranho e conveniente, o qual não reconhece a racionalidade e a lei da bio evolução. Não há imprevisibilidade na cultura da desonestidade, já que ela prospera baseada na cultura do regozijo indiscriminado e a qualquer custo, intolerante aos sofrimentos que são salutares e indispensáveis para fortalecimento moral e psíquico do Homem. Não há imprevisibilidade na cultura do ter, pois ela cresce simultaneamente à cultura do poder, distorcendo e resumindo até o ser à meros papéis emoldurados, fixados nas paredes corporativas e educacionais. Não há imprevisibilidade na cultura do preconceito, visto que é nascido da cultura do tal orgulho próprio tão apregoado e que, equivocadamente, destitui, do justo lugar, o amor próprio - fundamental para a vida individual e coletiva - e com o qual é confundido diariamente. Nada é imprevisto...É justamente isso que soa estranho...Estranho porque contradiz o óbvio, o qual demonstra que tudo é logicamente encadeado, e não por acidente ou acaso. Lei de causa e efeito. Portanto, quaisquer movimentos da sociedade são necessários e fundamentais, desde que os mesmos também não subvertam a natureza humana, a qual oferta, necessariamente, percepção da essência de cada sujeito único, e não a tendência simplista, que se atreve a confinar a magnitude do Homem em um ou dois termos escritos em panfletos de protestos, ainda que as palavras de ordem sejam de “boa vontade”. Sendo assim, homens não são todos opressivos. Saúde não significa estética. Sexo não se associa somente ao prazer pessoal. Riqueza não pressupõe, obrigatoriamente, exploração. Etc...            

     Pouco tempo atrás, foi dito que o Gigante acordou. Não...O Gigante nunca acordou, porque nunca dormiu. Ele, somente, não tinha consciência de sua identidade, de sua dimensão. Sem consciência de si, ele sentia um medo que lhe sugeria impotência. Então, decidia-se pelo silêncio.Temia outros gigantes os quais, para ele, aparentavam ser muito maiores. Mas, ao arriscar se movimentar por um instante, amparado por uma ínfima centelha de coragem, notou que esses outros gigantes também temem. Temem porque, igualmente a ele, têm algo a perder e, consequentemente, acarretem na diminuição de seus tamanhos. E, se têm algo a perder e se apequenar, podem ser feridos. E se podem ser feridos, podem ser mortos, aniquilados. Portanto, o Gigante, não apenas, deve continuar acordado, mas, é imperativo que permaneça ativo. Sua coragem e força crescerão, indefinidamente, enquanto se recusarem a recitar palavras, há muito decoradas e desgastadas, e usar cores desbotadas e sem vida. Afinal, isenção não é conceito aplicável ao que não nunca pôde passar ou ficar desapercebido.

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