JOGO FALADO E GRITADO

JOGO FALADO E GRITADO

                Deve-se falar baixo...Ao pé do ouvido...? Cada sussurro, de maior volume, pode significar condenação? Os olhos também precisam desenvolver, sorrateira e habilmente, códigos para que se possa fazer entender o universo de pensamentos? A partir de agora, vigilância, driblando carrascos de ideias? Assim será a nova dialética brasileira? Manca, disforme, insulto herético aos olhos da expressão nacional? Dialética patética segundo o mais profundo desejo oficial: cale-se se o seu verbo não for aprovado pela conjugação governamental? 

                Por que, senhores agentes públicos? Por que, a cada discurso, alguns buscam se distanciar de suas próprias histórias? Os tempos de brados devem ceder lugar à uma atualidade silenciosa, na qual a voz muda provaria, contundentemente, suas inconsistências oficiais? Veem o povo como açúcar, exageradamente doce, se dissolvendo na maré salgada e revolta do azedume nacional? Mais gravemente, tentam impor a todos suas amarguras, enquanto se esforçam em cercar, policiar e torturar a consciência cidadã? Alguns dos senhores já não deveriam saber que são paradoxais quaisquer atitudes coronelistas em um regime que, se ainda não vigora plenamente, busca ser democracia? Ranger de dentes, muques à mostra e canos apontados não remetem, de forma imediata, à reflexão de que tais posturas abusivas são cópias baratas, quase patenteadas, advindas de ignorantes e aspirantes à tiranos? Suas ações, desse modo, não serão vistas como o principal motivo para toda e possível precaução popular? Isso, a Psicologia chama de adequada discriminação de estímulos.

                A força de uma ideia é mensurada e realizada em função da necessidade, viabilidade, funcionalidade e amplitude de oportunidades para sua aplicação. Por isso, sufocar esse processo tende a restringir, radicalmente, os caminhos pelos quais nos tornamos seres distintos. Distinções essas que definem e são definidas pelo próprio significado da palavra liberdade. Portanto, é imperativo inibir a aparição fantasmagórica de quaisquer espíritos “donos da bola”. Considerar suas posições nonsense pode ser o melhor modo para anular propagações de absurdos e infâmias ideológicas, pseudo balizadas por verborragias mequetrefes.

                É preocupante não saber, mais precisamente, sobre o que poderia ser considerado índice de recorrência de intenções opressoras. Porque, sobre opressão, até a mera intenção deve ser repudiada. Especialmente, quando se apresentam travestidas de populismo, sempre piegas, atrasado e traiçoeiro. Quando as mesmas estão presentes, tudo beira à infantilidade e irresponsabilidade, em que quase é possível ouvir os “donos da bola” esbravejando em chiliques: “Não vai ser do jeito que eu quero? Então, me dá agora a bola, que eu quero e acho que é minha, porque eu vou para de jogar”. Lembrem-se, senhores agentes públicos: no país de qualquer nação que se preze, a bola pertence, generosamente, à cada cidadão. Do contrário, é cartão vermelho, não importando se é juiz, público, gandula, jogador, craque ou mito. Nesse jogo, não só a bola, mas, também o grito é direito de todos.   

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