Palha, vara e comprimidos

Palha, vara e comprimidos

Amedrontado. Em alerta constante. Tranquiliza-se muito pouco, ainda que apareça nas redes sociais, quase sempre, com um copo em punho e um sorriso de picadeiro na cara. Ou seria sorriso de nervoso??? Sorriso não mais amarelo, mas, branco chiclete, artificialmente produzido para tentar reafirmar que tudo está pra lá de bem. Que saudade do amarelo da realidade... Não há quem seja uma marca de cigarros, mas há esforço comum em tentar crer que se tornou um célebre sucesso. Daquele tipo de sucesso no qual, como dizia um pensamento popular recente, “cada mergulho é um flash”. Entretanto, depois do flash, o imperativo inevitável do desafio auto imposto em aparecer bem para si mesmo, “sem make e sem filtro”. Pronto!!! Amarelou!!! Amarelão!!! Então, urgentemente, o desejo por mais uma dose de paz e felicidade comprimidas em caixinhas.

               Brasil-sil-sil!!!! Campeão Mundial!!!! Diferentemente do futebol, o país canarinho, genuinamente AMARELO (haja fígado para tanto remedinho), é campeão mundial no consumo de Clonazepan. E esse título guarda um ponto de similaridade com a emblemática (sob vários ângulos) Copa do Mundo de Futebol, pois, o brasileiro também é seu grande financiador, gastando, anualmente, cerca de duzentos milhões de reais para garantir seu status: estuporado. O “povo heroico”, de brado dissonante, se tornou faixa preta (ops, é tarja preta)!!! Essa alta graduação cromática tenta o segurar para não justificar e ampliar, ainda mais, as palavras pseudo-proféticas, quase profanas, “verás que um filho teu não foge à luta”. E, volta e meia, luta com as mãos e pés!!! Executa voadoras por frustração de não conseguir decolar. Afinal, há crença forte do “nós contra eles”. É a luta travada contra os outros filhos, seus irmãos, digladiando-se, diariamente, nos trânsitos das cidades, nos bares, nas escolas, nos mercados, etc. Inclusive, eventualmente, alguns desses rebentos, mal educados e emocionalmente desequilibrados, protagonizam horrores bárbaros, conhecidos por linchamentos, pelos quais, presunçosamente, travestem os mantos de suas únicas e absolutas verdades de modo que se permitem dominar tudo aquilo que não os refletem. Cadê o calmantezinho????

                Tanta “coragem e ousadia” se apequenam quando a luta muda sua direção, tomando o rumo do íntimo individual. Nessa condição, inúmeros filhos da pátria mãe choram e fazem beicinho, contrariados pela mera possibilidade salutar de se questionarem, no intuito de renovarem suas crenças e visões de mundo para paradigmas mais funcionais e edificantes. Lhes parecem mais fácil e rápido, contra a dor oriunda de filosofias distorcidas, a analgesia física e mental, proporcionada pelo ouro de tolo farmacêutico, o qual impede a consciência plena sobre pensamentos e comportamentos que se tornaram veneno na corrente social. A última, por sua vez, agoniza por apresentar sintomas patológicos, como o exibicionismo e egocentrismo que se expressam, de forma crua, nua e legitimada, nas noites de confinamento diárias dos primeiros meses do ano, nas semanas dos quatriênios políticos, nas “coletivas individualistas” padrão qualquer federação internacional, na frase “antes ele do que eu”.

               “Tá nervoso, vai pescar”. Mas aí, o problema se agrava, porque o brasileiro pesca, ambiciosamente, de tudo. De mero lambari, querendo pegar e comer piranhas e almejando tubarões. A variedade não lhe falta para simples distração ou sofisticada diversão. Então, não procede o argumento sobre escassez de happy-hour. Pois, se assim fosse, não seria uma pequena cidade interiorana rural a campeã, relativa, no consumo de ansiolíticos. Na verdade, é até simbólico, pois, possivelmente, representa bem a provável raiz do problema: estreitamento de visões e enrijecimento de opiniões. O Brasil tem milhares de “Sin Cities”, tanto à moda caipira quanto ao perfil fast food.

               Segundo dados de pesquisa, o poder de dependência química promovida pelos tranquilizantes é intenso e rápido. Algo em torno de dois a três meses. Portanto, os raios de nosso sol de liberdade podem ser fúlgidos, porém, são também fugidios. O sonho de ser livre, constantemente, se esvai no mesmo compasso da caneta correndo a prescrição médica. Assim, autêntica saúde significa levantar-se do berço esplêndido, quase sempre reacionário, e assumir conduta de busca e conquista de mais vidas, mais amores. Que o brasileiro tenha paz quanto ao seu passado, possibilitada por compreensão, bem como, glória no futuro, corroborada pela clava forte e justa. O brilho no céu da pátria precisa ficar por mais tempo do que poucos instantes

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