PONTOS DE MUTAÇÃO: REALIDADE POSSÍVEL

PONTOS DE MUTAÇÃO: REALIDADE POSSÍVEL

               Diz-se, especialmente para as crianças, que não há como saber gostar ou não de algo caso não haja experimentação. Simples, claro e óbvio assim. A mínima experiência é necessária para que se possa tomar quaisquer decisões. Sim, é possível o contra-argumento de que, em dadas situações, tais como a drogadição, torna-se desnecessário experimentar, no intuito de constatação de resultados, ante o conhecimento geral de que o comportamento produzirá, ao menos em médio prazo, prejuízos inquestionáveis à saúde, vida social, etc. Porém, essas situações são as exceções. Via de regra, a experimentação é condição indispensável ao desenvolvimento humano, em busca de novas percepções, caminhos e objetivos. Isso posto, pode-se pensar que experimentação é algo relacionado, de alguma maneira, com criação, na medida em que, considerada a realidade presente do organismo, se uma nova possibilidade de pensamento e ação lhe é apresentada, pode-se modificar, substancialmente, citada realidade, transformando-a em outra. Pequenas mudanças levando à cenários – mentais e físicos - absolutamente diferentes do que já é conhecido pelo organismo. Desse modo, como pensar o conceito de Desamparo Aprendido em Psicologia?

Experimente, leitor, desenhar duas semirretas, com determinado ângulo, e, em seguida, outras duas, alterando, também, o ângulo. Caso as seguisse desenhando, tenha certeza de que, muito brevemente, rumariam, de acordo com a continuidade de cada semirreta, para lugares totalmente distintos. Essa é uma das provas cabais de modificação de resultados, por alteração mínima de um único elemento. Isso também é válido no que diz respeito às vivências, resultados e aprendizados humanos. Contudo, segundo a ciência psicológica, um organismo pode ter comprometida, ou até, eliminada, a percepção quanto à viabilidade de transformação geral quando submetido à um contexto no qual é forçado a suportar estímulos aversivos, dolorosos ou desagradáveis, se definindo, por isso, incapaz de evitar novos contatos com tais estímulos, ainda que o possa. Essa é a ideia do Desamparo Aprendido. Ops...Talvez, nesse exato instante, quando consideradas por essa ótica, as apatias, as tendências às inoperâncias - sejam as mesmas individuais ou coletivas – comecem, infelizmente, a fazer sentido para nós, brasileiros. Dito em outras palavras, é possível o entendimento do motivo de pouco ou nada fazemos para mudarmos nossas realidades, ainda que, muitas e muitas vezes, envoltos e feridos pelo caos. Aquela famigerada criatividade tupiniquim (e não improviso nas coxas), pelo efeito do Desamparo Aprendido, sofre e é neutralizada pelas várias de tentativas de sufocamento, nos dias úteis, finais de semana e feriados, por mãos, as quais, para tal, fazem uso do travesseiro presente no berço esplêndido, principalmente, nos incontáveis momentos nos quais estamos “dormindo’. Literal e metaforicamente, individual e coletivamente, morremos devido à exaustão e inoperância. Estaríamos, então, condenados à um círculo vicioso, no qual giram, eternamente, descrença – inconsequência – tragédia – descrença (e assim por diante)? A boa notícia é: não! A ótima notícia: podemos romper o ciclo, já no ponto da descrença, evitando que novas inconsequências gerem tragédias ainda maiores. A notícia de ouro: ao aprendermos que novas possibilidades surgem a partir de mudanças, minimamente, acreditadas e mesmo que pontuais, assimilamos a percepção de que o novo sempre será possível. Questionamos nossas crenças? Temos inciativa? Replanejamos? Ousamos? Desenvolvemos paciência? Trabalhamos a e com perseverança? Essas são algumas das perguntas guias em direção à novos mundos mentais.

                Desamparo aprendido? É possível derrubarmos essa suposta lição perversa e dispensável, reaprendendo amparo. Amparo que, incialmente, deve ser proporcionado por nossa própria mente, normalmente e naturalmente, curiosa. Simultaneamente, amparo também oferecido por um mundo, tão grande e colorido, que sua natureza nos impulsionará para lugares cada vez mais surpreendentes, promissores e distantes de nosso ponto de origem. Impulsão para nossos pontos de mutação. Impulsão para uma nova vida. Bem distante do preto e branco apenas.

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