QUEM FOI WILLIAM HENRY BONNEY?

QUEM FOI WILLIAM HENRY BONNEY?

 

               Essa é uma pergunta semelhante às famosas “você sabe quem eu sou?”, ou, “você sabe com quem está falando?”. Também representa um insistente problema, o qual consiste na invenção de uma imagem, em detrimento, ao menos parcial, da realidade. Tudo em nome de interesses específicos e, geralmente, escusos e inconfessáveis. Interesses tais como a inversão dos fatos e provocação intencional de desproporcionalidade, ainda que disfarçados por suposta normalidade, sobre tudo o que os mesmos envolveram. Portanto, respondê-la corretamente pode significar o ajuste necessário da história, restaurando o senso de realidade e dimensão.

                Manchete do Santa Fé Weekly Democrat, de 21 de julho de 1881: “O pistoleiro, que matou um homem para cada ano de vida, foi encontrado e consequentemente morto pelo Xerife de Lincoln Pat Garrett”. Aquele jornal, convenientemente, sensacionalista, se referia à morte do já “neo lendário” Billy The Kid. E, como tudo que é sensacionalista, os fatos foram desconsiderados pelas estórias de bar. O jovem de 21 anos – à época de seu falecimento – em verdade, contabilizava 4 mortes em seu currículo criminoso. As demais 17 – mais do que o quádruplo do número exato – ficaram por conta de ilusões montadas para que Billy, e sua inconveniência social, fossem, o quanto antes, usados e, em seguida, rapidamente extirpados. Camufladas pelas fumaças de revolveres e espingardas, as rivalidades política e comercial eram os reais motivos para todo conflito instalado no local. Busca pelo poder...Quando não??? Desse modo, o garoto de 18 anos, que já aos 14 começou a conviver com perdas e muito sofrimento, tem sua vida transformada em violência e, nos melhores momentos, apenas, sobrevivência. “Não sei para onde estou indo. Só Deus sabe onde estive. Sou filho de ninguém.” Os citados trechos da música “Blaze of Glory”, de Jon Bon Jovi, composta para o filme sobre a fase final da vida de The Kid, define bem o quanto o Billy, apegado à sua fama prematura, não percebeu seu significado de bode expiatório. Ops...O faroeste é hoje, é agora.  William Henry Booney, o jovem homem, é mais conhecido do que o mito forjado. Isso porque reaparece em inúmeras matérias de jornais, diariamente. William está nos meninos e meninas que, tal como Bon Jovi canta, respondem à sociedade - quando perguntados se ficarão sábios – questionando-a se ficarão velhos. Se terão a chance de conhecer e viver o Amor em sua mais plena e ampla concepção ou se o verão, mais uma de tantas vezes, ser derrubado e morrer em vão. Porque, de fato, esses meninos não são os primeiros a atirar. Mas, certamente, é primeiramente por suas quedas que a sociedade começa a sangrar. Parabéns, Jon, por seu canto profético, a respeito não só de William, mas de tantos jovens, empunhando pistolas ou não! É o sangue, oriundo da sociedade jovem, que sacia a sede daqueles que, séculos após séculos, tudo fazem para sustentar de pé tantas inversões e desproporções. Tal como naqueles tempos, nem todos os principais agentes corruptores da lei e da ordem cavalgam ao sabor dos ventos. Muitos estão sentados no interior dos casarões de imponentes propriedades, jogando, como dados, a sorte e azar de quem, em algum momento, os irão incomodar.

                “The Kid”, infelizmente, é um apelido apropriado para definir o grau de relevância de tantos que têm como forte desejo morrer como um homem, ainda que  grande parte de sua vida tenha sido infernizada por pecados. Privilégio esse que outros poucos não conhecem ou reconhecem, ainda que gozem, alucinadamente, de suas vidas abastadas e supostamente grandiosas.      

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