Ser ou não ser: O medo e a vergonha decidirão!

Ser ou não ser: O medo e a vergonha decidirão!

“Pego pela correnteza, simplesmente pego pela correnteza
Cada passo que eu dou é outro erro para você
Pego pela correnteza, simplesmente pego pela correnteza...

Eu estou me tornando isso
Tudo o que eu quero fazer
É ser mais eu mesmo
E ser menos como você...”.
(Trechos da música “Numb”, de Linkin Park)
 
               Olhares tristes, nos quais as lágrimas, ao invés de aliviarem, embaçam, ainda mais, qualquer visão de saída...Uma dor, aparentemente, sem escape, que propõe, traiçoeiramente, como única solução, calar até não mais aguentar. Não mais suportar, se afogando em prantos por medo e ser sufocado pela repetitiva agonia de mais uma vez ser ferido em algum lugar mais profundo do que a própria identidade. Perde-se a identidade, embora não fosse desejo íntimo não mais se reconhecer. Mas, o que querer? Pode querer, ainda que, forçosamente, já convencido de ser ousadia a mais pura liberdade de caminhar e sorrir??? Refazem-se, então, os olhares tristes, nos quais, agora, só há seca, e o alívio se esvaiu na opacidade densa da condição que insiste em se estabelecer.

Segundo índices oficiais, aproximadamente 30% de estudantes brasileiros (sexo masculino em sua maioria) tem suas vidas sócio-escolares capitaneadas por consequências danosas e temores cotidianos, oriundos de um processo estúpido (mas, constantemente, negado e negligenciado), contundentemente narrado na música “Numb”, de Linkin Park, aqui, inicialmente, representada por duas de suas partes. O Bullying! Canções de Rock, bem como outras expressões de artes, tentam jogar mais do que luzes sobre essa grave situação que, até o momento, mais se beneficia do crepúsculo filosófico, moral e comportamental que, há muito, caracteriza as ruas e suas culturas contemporâneas. Ainda segundo estudos científicos, um dos principais locais para escolha de alvos pelos “valentões” é, justamente, a instituição escolar, a qual, no exato oposto, deveria ser garantia de germinação e cultivo de invulneráveis percepções de cidadania, fraternidade e diálogo entre semelhantes e diferentes.

               Em diversos casos, o resultante desse horror juvenil é o constante bate-cabeças entre os componentes escolares, de modo alienado, parcial e ineficiente, pelo qual a intenção parece remeter, constantemente, à necessidade de se considerar impotente frente ao flagelo alheio, o que definiria inocência almejada. E o fato da escola ser o ambiente mais “propício” para a ocorrência do bullying não é fruto de acaso. Pelo contrário. Lamentavelmente é simbólico! Simboliza a deterioração do aprendizado que ocorre em diversos interiores dos templos do saber, principalmente, a respeito de como são e devem ser regidos os relacionamentos humanos. Em palavras mais claras, para muitos, a regente mestre das relações é a corrida incauta pelo poder.  Para evidenciar essa tese, segundo dados de pesquisa, aquela ultrapassada noção de que o agressor é um alguém, também, agredido tem cedido para uma visão mais clara e, por que não dizer, mais coerente, pois, percebeu-se, criteriosamente, que o executor de bullying, em geral, tem elevada autoestima. Nesse sentido, a questão confirma a “nova regência”: a perspectiva da ideação de poder. Do desejo de dominar o outro. E essa concepção é, em algum nível, presente nas demais relações interpessoais. Portanto, seria possível pensar o bullying como uma representação caricata de uma dinâmica social distorcida, porém, inegavelmente, comum e, consequentemente, “aceitável”? Se a resposta for positiva, transformará muitos no que se convencionou denominar “agressores passivos”, na medida em que acham graça das situações humilhantes impostas às vítimas, ou, até mesmo, se calam por conveniência e suposta normalidade.

               A intenção individual e coletiva humana é a inserção em grupos, principalmente, por identificação. Em função disso, a distorção citada teria duas facetas. A primeira referente ao equívoco conceitual sobre participação, confundindo-a com a necessidade de subjugação de um outro para entender-se partícipe, que originaria a noção deturpada de poder. A segunda é relativa à ideia infundada de que a inserção em determinado grupo é tão fundamental que deve ocorrer a qualquer custo, inclusive ao custo da relação agressão-silêncio. Daí, também, a significativa taxa de suicídio (e, a partir de período recente, homicídio) por parte das vítimas de bullying. Nesse contexto, quase não há entendimento de que são vários os grupos sociais existentes, nos quais sempre haverá um rosto que se possa definir semelhante e amigável.

               Obviamente, nada justifica uma atitude de segregação e agressão. Sem a menor dúvida, o ideal consiste na harmoniosa relação entre todas as mentes, todos os corpos, todos os espíritos. Entretanto, se a defendida harmonia for vista como utopia, não é exagero partir para a defesa de que, pelo menos, uns olhem para os outros com o devido respeito pelo espaço íntimo, no qual todos desenham suas vidas segundo seus interesses e limitações. Afinal, de fato, é grande pretensão ser mais o que se quiser ser, e ser menos o que se diz que se deve ser?

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