SINCERIDADE: REDUÇÃO FUNDAMENTAL É A DA VIOLÊNCIA DAS FAMÍLIAS.

SINCERIDADE: REDUÇÃO FUNDAMENTAL É A DA VIOLÊNCIA DAS FAMÍLIAS.

                Gary Becker. Economista americano, prêmio Nobel, propôs, nos anos 60, uma teoria pela qual a opção pela vida bandida é algo consciente. Segundo Becker, é uma decisão oriunda de pura e simples relação-custo benefício, construída e avaliada pela percepção do cidadão. Isso porque, segundo tal teoria, os indivíduos fazem uma análise de vantagens e desvantagens envolvidas em cada um dos comportamentos distintos e possíveis que, no caso, são, em um pólo, procurar emprego honesto e, em pólo oposto, cometer crimes. Admite-se ainda que Becker viu, ao longo dos anos, sua teoria ser confirmada por dados estatísticos. Portanto, a partir da consideração de Becker, é possível reestabelecer o eixo filosófico para uma discussão social central na atualidade brasileira: a maioridade penal. A simples decisão sobre reduzir ou não fica medíocre quando se enxerga a questão pela lente teórica de Becker, pois, podendo ser o crime o resultado de uma “ponderação perversa”, suas raízes terão fixação em aspectos essenciais da dinâmica social brasileira. Aspectos como a própria família brasileira média, mergulhada em costumes e convenções, ambos muito pouco revisados e, provavelmente, corresponsáveis pelas mazelas sociais. De modo complementar aos já citados, aspectos sobre o conceito e comportamento de consumo, já muito distorcidos e distantes da sensatez e sustentabilidade social factual.

                Na área de administração, alguns postulam que o vendedor nato é aquele que convence ao outro sobre o que esse último precisa, ainda que em nada precise, de fato, do produto que está sendo vendido. E, em função do lucro e privilégios que tal postulação pode gerar para o vendedor, esse exercício profissional de convencimento, cuja ética é muito duvidosa e egocêntrica, passa a ser considerado como algo positivo, valoroso e fundamental. Desse modo, tendo em vista a tendência capitalista/predatória da sociedade contemporânea, na qual lucro e ser privilegiado se caracterizam como condições fundamentais, a referida mentalidade de venda é transformada em conceito absoluto de verdade, significado de êxito e forma de crescimento geral. Por isso, se a base da sociedade é a família, é lógico concluir que ela própria assimilou, impõe e dissemina, como uma de suas colunas de sustentação, tais conceitos de lucro absoluto e privilégio. Destrutivamente, inúmeras vezes, ambos de modo indiscriminado, a qualquer custo. Imposições como escolha profissional, definição de relacionamentos afetivos, desejo por influência, ostentação, comportamento sexual, etc. Quantos exemplos mais são necessários para o entendimento de que, quando é dito que a sociedade é violenta, deve-se também compreender a família brasileira como instituição violenta? A perversidade que fundamenta a violência familiar no Brasil ficaria evidente não fosse pela camuflagem advinda dos sorrisos promovidos pelos “comerciais de margarina”, nos quais papai, mamãe e filhinhos estão sentados, em uma bela manhã, todos juntos à mesa em transe normótico. Isso, ainda que na noite escura anterior, papai e mamãe tenham ficado indignados e contrariados ao serem alertados, pela “miserável escola pobre” onde estudam seus filhinhos, sobre o comportamento inadequado dos mesmos para com seus colegas. Vale dizer que a indignação e contrariedade de papai e mamãe não se referem à má conduta de seus rebentos, pois estes “são ótimos e jamais seriam incapazes de incomodar uma mosca”. Não...Afinal, “é a violência e mania persecutória, sempre dos outros, que calunia e difama a imagem dos nossos rebentos”...E é assim que “a saga de ir(responsáveis) e seus rebentos” segue arrebentando a corda para o lado mais fraco: a vida. Vida de todos que se perde nos 100% de crimes e atrocidades consumidas no café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e ceia brasileiras. 100% de crimes e atrocidades, dos quais – segundo dados oficiais – somente 8 a 10% ficam esclarecidos quanto aos seus autores, desmontando, ainda mais, a tese ingênua e infantilizada de que apenas 1% dos atos criminosos são de autoria de menores. Sim, pois se 98% dos atos infracionais ficam obscuros, não há base estatística para afirmar a tal ideia do 1% relacionado ao menor. Somado a isso, segundo dados divulgados pela Folha de São Paulo, o número de assassinatos com autoria conhecida (por menores) nos Estados Unidos, Inglaterra/ País de Gales e Uruguai são de, respectivamente, 7%, 18% e 17%. Então, tem lógica o 1% brasileiro, considerando sua realidade, principalmente, a filosófica??? Entretando, repito, em palavras mais breves, toda essência desse texto: não deveria se tratar, apenas, de debate e decisão por redução ou não de idade penal (até porque tal discussão, na verdade, não se refere à solução para criminalidade, mas sim, à simples relação causa e efeito para o infrator). O debate e consequente decisão tratam, de forma urgente e gritante, da família brasileira e seus valores, os quais celebram ouros de tolo. Pois, lamentavelmente, esses falsos brilhantes ainda, em muito, seduzem cabecinhas e cabeções, mesmo que sejam evidentes seus escurecimentos após tantas duchas de água gelada jogadas pelo poder oficial e paralelo, principalmente quando ambos se confundem entre si.

                Portanto, antes de “descer as mãos” uns nos outros, seja por votações dentro das “casas da democracia”, ou, por filosofias político-partidárias, seria prudente, coerente e producente quando, nas cozinhas familiares, discutir responsabilidade social e adequação comportamental fraternal. Do contrário, cada família só conseguirá, de fato, passar margarina no pão, mas, ao saírem de seus mundos particulares – de condomínios a comunidades – continuarão a ser violentamente abordadas por menores e/ou maiores, estando os últimos também convencidos quanto às suas “pseudonecessidades”, mas, sem vontade ou imediata condição de supri-las de forma, socialmente, saudável, cooperativa e edificante.

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