VERSÃO BRASILEIRA: NEM SEMPRE PRÓPRIA PARA CONSUMO

VERSÃO BRASILEIRA: NEM SEMPRE PRÓPRIA PARA CONSUMO

      “Se as versões são mais interessantes do que os fatos, fiquemos com as versões”. Talvez não sejam essas as palavras exatas mas, certamente, essa é a ideia central. Quem nunca ouviu falar sobre ela??? Dificilmente haverá quem levante a mão. Especialmente no Brasil, onde as versões são supervalorizadas, de músicas até os fatos mais importantes do cotidiano nacional. E, claro... A dinâmica sociopolítica, como um todo, se fosse um ser de carne e osso, se sentiria excluída do grupo se não fizesse parte dessa tendência criativa de mirabolar. Todavia, nessa esfera, geralmente as versões flertam com as mentiras. Até porque, o hábito de mentirinhas tem se tornado DNA do jogo político - mas, quem se lembra de que em um jogo sempre há quem perca? Chega ao cúmulo de todos saberem a respeito, de antemão, mas darem risadas ou de ombros. Mentirinhas pró, claro...Jamais contra quem as está contando. Entretanto, exatamente por isso, é previsível o surgimento de problemas, que variam dos mais brandos aos mais graves. Para citar e discutir apenas um, as versões podem influenciar, negativamente, no prognóstico da saúde social. Como assim??? Pensemos...Está usando repelente???

      Quando da prevenção ou surgimento de alguma patologia - física ou mental -, é indispensável que exista um esforço real em estudá-la. Conhecer ao máximo sua etiologia, sua dinâmica e suas consequências é requisito primeiro (mas não único) e fundamental para que seja possível formular e aplicar estratégias de combate resolutivo ou, ao menos, minimização efetiva. Em síntese, seja por resolução ou minimização, o desenvolvimento de condições reais e específicas de enfrentamento, conduta no extremo oposto da improvisação e embromação que, frequentemente, marcam as ditas “providências a serem tomadas”. Marcas que também poderiam ser denominadas sequelas, em função do potencial negativo de definição que possuem. “...Se eu dissesse que nós estamos ganhando a luta, a gente estaria numa fase mais avançada. Mas nós vamos ganhar essa luta, é uma outra coisa. Nós vamos mostrar que o povo brasileiro vai ganhar essa guerra”. Controversa afirmação...Sei não, excelentíssima...Possivelmente o povo - vulgo “nós” - não a ganhará, mas, no máximo, a contornará por puro instinto de sobrevivência, solidão e pelo auxílio climático no decorrer dos meses. Fora isso, não há indícios que permitam considerar que o mérito dessa possível futura pseudo-vitória será por qualquer outra razão ou medida factual, seja oficial ou extraoficial. Como também, as famílias genitoras do que pode vir a se tornar uma geração de inocentes indivíduos microcéfalos - cujas vidas necessitarão de permanentes cuidados extras - provavelmente não se sentiram muito aliviadas e conformadas com declarações como a dada pela presidente, ou com notícias sobre a criação de centros de estimulação precoce. Aliás, a criação desses centros - caso de fato ocorra - não será merecedora de aplausos e confetes por populares, mas, de um sonoro “não foi feito mais do que a mínima obrigação”. Portanto, a questão se concentra na ousadia - leia-se desatino - em decidir acreditar, mais uma vez, em versões. Até porque a palavra precoce, no que se refere às criação e execução de soluções públicas - em seu real sentido, livre de qualquer versão - parece raramente ter significado prático no cenário brasileiro. Algo, na verdade, lamentavelmente, esperado. Pois, relembrando, só é possível prontidão quando há embasamento em análise prévia e posterior discurso realista, ambos não devendo ser manipulados em função de qualquer compromisso com melhora de índices de popularidade ou uma tal “venda de uma agenda mais positiva para o país”. Não estão distantes na memória as versões que prometiam obras de mobilidade urbana, novos aeroportos e estádios, para a já ocorrida e malfadada Copa do Mundo do Brasil, as quais deixaram como herança a gastança de dinheiro público e “ruínas modernas” . Exemplos concretos - sem trocadilhos - do quanto os fatos, principalmente os que envolvem os resultados finais, não condizem com tantas versões alardeadas, prejudicando a saúde, mental e física, individual ou coletiva.

      Se o negócio é inventar versões, não é demais considerar que parte significativa da população brasileira aparenta estar se tornando uma versão mais volumosa e abobalhada de plateia de auditório, dando aval para que muitos de seus representantes públicos, aparentemente, se tornem, cada dia mais, versões perigosas, debochadas e repetitivas dos piores animadores profissionais. Após esse nível, por uma involução (in)voluntária, o Brasil pode chegar a ser uma gigantesca versão do Coliseu, porém, com versões incertas para cada um?

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