A internacionalização da China abre oportunidades ao Brasil
Por Marcos Fava Neves
Especial para Folha de São Paulo, Caderno Mercados, 30/06/12
Neste junho aconteceu o vigésimo segundo encontro anual de agronegócios, alimentos e bioenergia, congregando cerca de 400 empresários em Shanghai, China.
Ir à China cansa fisicamente pela distância, mas cansa mais ainda intelectualmente, pela distância de velocidade com a qual as coisas estão acontecendo e o volume de informações recebidas. Na volta, existe a nítida sensação que o mundo de cá anda em câmera-lenta.
Serão diversas análises feitas ao leitor da Folha, sendo esta primeira sobre as mudanças que impactam as indústrias chinesas de alimentos, principalmente as oportunidades e os desafios.
Em termos de oportunidades, o crescimento da população chinesa está estimado em 1,4 bilhão em 2015; 1,45 em 2020 e 1,5 bilhão de consumidores em 2030, quando deve se estabilizar. Outro fato é a evolução da urbanização, que vai de 55% em 2015 para 60% em 2020 atingindo incríveis 70% em 2030. Isto significa quase 300 milhões de pessoas indo do campo para as cidades. A renda per capita evolui de US$ 5,5 mil em 2015 para US$ 15 mil em 2030.
O impacto calculado destes fatos é que o consumo per capita de carnes pula de 57,3kg/hab em 2015 para 68,6kg/hab em 2030. Simplesmente quase 12 quilos a mais por Chinês, abrindo amplas oportunidades.
Interessante compartilhar com o leitor os resultados a experiência de moderar um workshop com quinze das maiores empresas de suínos e aves da China. Quando perguntados quais são os desafios principais, foram os seguintes listados: custos e qualificação de mão-de-obra, que cresceram 30% nos últimos dois a três anos, novas regulamentações Governamentais referentes à segurança do alimento (a China é famosa em contaminações) estão elevando os custos de produção e restringindo componentes utilizados nas rações. Pela concentração da produção, doenças e epidemias se espalham rapidamente.
Existem também pressões cada vez mais fortes pela sustentabilidade, em como conciliar o crescimento necessário com a restrição de recursos e as questões ambientais. Outras preocupações envolvem a volatilidade do mercado de grãos (componentes das rações), logística no interior, o crédito insuficiente e ainda a política agrária.
As políticas governamentais de desenvolvimento urbano avançam sobre áreas de agricultura, trazendo mais competição por terra. Fora isto, existe amplo debate sobre a contaminação e a disponibilidade de águas e solos na China.
A boa mensagem para a produção brasileira é que os custos de produção sobem muito na China também, bem como o consumo. Estes fatos levam os empresários chineses a destacarem a necessidade de internacionalizar cada vez mais suas empresas, e aqui abrem-se as oportunidades ao Brasil, em receber estes investimentos para abastecer parte do mercado chinês com os excedentes de alimentos aqui produzidos.
A mensagem dada aos chineses é que não é necessário comprar terras, mas sim originação (redes de suprimento) de produtos no Brasil. Após vinte dias, chega-se cada vez mais a conclusão que a China fascina.
MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.