O Brasil como ator principal no desenvolvimento da agricultura africana

O Brasil como ator principal no desenvolvimento da agricultura africana

Especial para Folha de Sao Paulo, 14/06/12, por Marcos Fava Neves

A África apresenta duas grandes oportunidades para a expansão das organizações agrícolas brasileiras. Fruto de discussões no evento anual da câmara de negócios agrícolas da África do Sul, este texto foca em duas Áfricas: a consumidora de alimentos brasileiros e a produtora de alimentos para atender à crescente demanda mundial.

Começando pela África consumidora de alimentos brasileiros, os números impressionam, pois vem tendo continuamente um crescimento médio maior que o da Ásia e seu PIB agregado foi de US$ 1,6 trilhão em 2010, devendo chegar a US$ 2,6 trilhões em 2020.

Países como Angola, Moçambique, Ruanda, Nigéria e Etiópia cresceram em média mais de 8% ao ano na década. O mercado interno africano já é estimado em US$ 1 trilhão, devendo chegar US$ 1,4 trilhão em 2020. A urbanização deve saltar de 40% a 50% em 10 anos, com grandes impactos no consumo. Estima-se em 2050 quase 2 bilhões de pessoas na África contra 1 bilhão em 2010 e apenas na África do Norte e sub-sahariana são esperadas pelo menos 700 milhões de pessoas a mais até 2030.

O deficit de produção de alimentos aumentou em 50 milhões de toneladas em cinco anos, quando considerada junto com o Oriente Médio, sendo os países com o maior deficit entre produção e consumo no mundo.

Alinhado a este crescimento, a África consumia 3% das exportações totais de US$ 20 bilhões do agro brasileiro em 2000, e em 2011 já consumia 9% das exportações de US$ 95 bilhões em 2011, uma importância maior que os EUA, que ficaram com 7% do total exportado pelo Brasil. Esta é a oportunidade ao Brasil vinda da África grande consumidora de alimentos.

Sobre a África produtora de alimentos, são primordiais as terras africanas para suprir o alimento e biocombustível desejado, tanto pelos africanos, como pelos chineses, indianos e outros. Só o Brasil não será suficiente para suprir a demanda mundial.

Hoje a África usa 200 milhões de hectares em atividades agrícolas, mas estimativas mostram quase 600 milhões de hectares que podem ainda ser usados para produção, com destaque para Sudão (70), Congo (60), Angola (50), Zâmbia (50), Moçambique (40) e Tanzânia (40), entre outros. Destes 600 milhões de hectares, cerca de 140 são considerados muito aptos, 225 aptos, 140 moderadamente e 90 com aptidão marginal.

Aqui vem a oportunidade. Para a expansão agrícola, pode ser de maior benefício à África empreendimentos com modelos organizacionais que envolvam empresas agrícolas ou cooperativas brasileiras detentoras de tecnologia e capacidade de gestão, empreendedores africanos, junto com a EMBRAPA e os órgãos públicos e privados de financiamento brasileiros e africanos, em detrimento ao modelo onde terras africanas são compradas ou alugadas por países grandes consumidores como China, Índia, Coréia, entre outros que vêm recebendo sérias críticas da sociedade africana.

São grandes as oportunidades existentes ao agro brasileiro na África consumidora e produtora. Existe proximidade cultural, de idioma e de interesses e o momento de participar na onda do crescimento africano é agora.

 

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat. Escreve este texto da África do Sul.

 

 

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