O Consumo Mundial de Suco Cai Consistentemente

O Consumo Mundial de Suco Cai Consistentemente

Marcos Fava Neves       

Notícias da Laranja

 

O USDA fecha a safra da Florida (2015/16) em 81,5 milhões de caixas. Há de se ressaltar a qualidade do trabalho do USDA, que estimou a safra em outubro de 2015 em 80 milhões de caixas. Portanto estimativa bate em cima com a realidade quase um ano após!.

Sobre a safra 2016/17, o mistério prevalece. Está muito quente e com chuvas irregulares. Houve problemas na florada e observações iniciais do número de frutas por árvore não são animadoras. Conversas ao pé do ouvido indicam que a safra dificilmente chega nas 80 milhões de caixas.

Preços na Bolsa deram boa recuperada pois teremos problemas de menor oferta e consumo considerável dos estoques existentes. No Brasil, pelo controle da Citrus BR, os estoques eram de 766 mil toneladas em junho de 2014, 510 mil no mesmo mês de 2015, 352 mil neste junho e deve chegar próximo a zero em junho de 2017. A demanda por suco brasileiro será de 1,075 milhões de toneladas, e produção total somada aos estoques ficaria 2 mil toneladas acima disto.

A menor safra do Brasil (246 milhões de caixas) com produção de suco quase 20% menor (dever se de pouco mais de 700 mil toneladas, advindas do processamento de pouco mais de 206,7 milhões de caixas com baixo rendimento, ao redor de 292 caixas/tonelada de suco) impactou favoravelmente os preços do suco na Europa, que chegaram a US$ 2.300/t. E com viés de alta, com analistas dizendo que pode chegar a mais de US$ 2800/t.

Terminamos o estudo de volumetria de consumo, que é feito pela Markestrat à partir de dados de diversas fontes internacionais, tais como Euromonitor, Planet Retail, Tetrapak, Associadas da CitrusBR e outros. Tal como nos últimos 5 anos, isolamos os 40 países que representam praticamente 100% do consumo de suco de laranja, considerando todas as bebidas convertidas em FCOJ equivalente a 66o Brix, exceto suco utilizado em carbonatados. Seguem os principais resultados:

Em 2014 consumimos 2,046 milhões de toneladas. Em 2015 o consumo mundial recuou 5,3% (108 mil toneladas), caindo para 1,938 milhões de toneladas.

Se compararmos 2015 com 2005, o consumo caiu 19,2% (era de 2,397 milhões de toneladas em 2005). Vejam que interessante, neste mesmo período, a população do mundo cresceu 12% e a renda per capita cresceu 39%, com o desemprego caindo de 7,0 para 5,6%. Ou seja, o consumo de suco cai mesmo com o forte crescimento dos mercados alimentares.

O grande responsável deste tombo foram os EUA, onde o consumo caiu 11%, vindo de 688 para 613 mil toneladas, quando comparados 2015 com 2014. Comparando com 2005, o consumo nos EUA caiu 38% neste período de dez anos (era de 988 mil toneladas). O consumo per capita cai de quase 18 litros para 10 litros por habitante.

Alemanha e França seguem na segunda e terceira posições como maiores consumidores, tomando ao redor de 150.000 toneladas ano, e caíram 4%. Quando comparados com 2005, a Alemanha caiu quase 30% (de 208 mil para 148 mil toneladas) e a França teve queda menor (8%, de 153 para 141 mil toneladas).  

A surpresa negativa deste ano foram os emergentes, que praticamente estagnaram os crescimentos da década. Entre estes, o destaque foi a China, que vinha crescendo (133% desde 2005) e já ocupava a quarta posição entre os maiores consumidores de FCOJ. Sempre esperávamos que os emergentes pudessem frear a queda no consumo, mas a própria China caiu 6% em apenas um ano, vindo de 141 para 132 mil toneladas.   

Canadá e Reino Unido ocupam a quinta e sexta posições no ranking, ao redor de 110 mil toneladas cada, e ambos caíram, mas o Reino Unido apresentou o maior tombo, cerca de 8% em apenas um ano.

Da sétima até a vigésima posição no ranking do consumo, temos países que demandam entre 20 a 60 mil toneladas de FCOJ equivalente por ano. Destes, Arábia Saudita, México, Japão e Argentina cresceram a taxas maiores que 5%, e Brasil, Austrália, Espanha, África do Sul e Itália ficaram praticamente equivalentes. A Bélgica, Holanda, Coréia do Sul, Rússia e Polônia tiveram perdas de mercado acima de 5%. Mas como são consumos relativamente pequenos, representam pouco impacto no total.

Estados Unidos, com 76 mil toneladas a menos, e o grupo formado por Alemanha, França, China, Reino Unido e Rússia, que perdeu outras 36 mil toneladas foram os que fizeram os maiores estragos no ano de 2015.

A análise dos consumos per capita apresenta números interessantes. Países desenvolvidos apresentam consumos entre 10 a 15 litros por habitante ano, enquanto que os emergentes tomam algo entre 2 a 4 litros. Chineses tomam apenas 0,5 litro/habitante ano. Sob esta ótica, há potencial para se aumentar, mas a concorrência é forte com as outras bebidas e o consumo de néctares, que usam menos FCOJ/litro, pois adiciona-se água.

O sabor laranja é soberano em praticamente todos estes mercados mais importantes, com porcentagens ao redor de 50% do consumo de sucos 100%, exceção de Alemanha e Rússia, onde a maçã vence por pouca diferença e no Japão e Turquia, onde vencem os mix de vegetais e sucos. As participações da laranja mostram pequena queda nos principais mercados, ou seja, no share de bebidas, não são os outros sucos 100% que estão tomando grande parte do mercado da laranja, são as outras bebidas inovadoras.

Enfim, esta análise dá mais detalhes do que vem sendo por nós comentado faz tempo. O suco vem perdendo mercado, mas como a produção caiu mais que a demanda, a situação atual de preços é confortável. Ou seja, a conjuntura é boa, mas a estrutura nem tanto. 

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