O orçamento da refinaria Abreu e Lima faria 68 novas Usinas de Cana

O orçamento da refinaria Abreu e Lima faria 68 novas Usinas de Cana

especial por Marcos Fava Neves, 07/08/12 

Em mais um triste caso da gestão pública brasileira, a imprensa noticiou que o custo da refinaria Abreu e Lima da Petrobrás, aquela que a nova presidente da empresa se refere como um aprendizado para nunca mais se repetir, pulou de US$ 2,3 bilhões, quando foi festivamente lançada em 2005 pelo ex-presidente do Brasil e o presidente da Venezuela, para US$ 20,3 bilhões, no orçamento atualizado, quase 9 vezes maior.

Os dados são de que o custo por barril de petróleo será de US$ 87 mil, quando existem similares sendo inauguradas na Índia, China e Coréia por US$ 10 a US$ 25 mil. Ainda que fosse tolerado o problema orçamentário, cujo crescimento de nove vezes poderia ser justificado pela inflação de mão de obra no Brasil, custos de matérias e primas e outros, a informação mortal é que o Brasil receberá um investimento 3 vezes mais caro, portanto com o mesmo volume de recursos e boa gestão poderiam ser feitas três refinarias da mesma dimensão.

Como a imprensa não fez esta relação, sobrou um espaço para comparar a refinaria Abreu e Lima com a cana, setor onde a Petrobrás já deveria ter uma participação muito maior e ainda recentemente anunciou um recuo nos investimentos, e onde o Governo Federal faz dumping de preços. 

Num país que se diz ambiental, que sedia a Rio + 20, se investíssemos este mesmo recurso em Usinas de Cana novas (greenfields), poderiam ser feitas 68 unidades de 2 milhões de toneladas de cana cada. Bem distribuídas, em 68 pequenos municípios do Brasil, criariam quase 1000 empregos cada, gerando investimento, diversificação, renda e espalhando o desenvolvimento, pois demandariam nestas cidades a construção de casas, hotéis, restaurantes, academias, shoppings, que precisariam de gente para trabalhar, promovendo uma verdadeira farra de empregos e oportunidades, como que ví na semana passada em Chapadão do Sul (MS), apenas para citar um caso, em que fiquei maravilhado.

Com a produção destas 68 novas usinas, O Brasil:

a) voltaria a abastecer o crescente mercado mundial de açúcar, onde foi perdida importante parcela de mercado, trazendo US$ bilhões em exportações; 

b) voltaria a abastecer com etanol uma grande parte da frota flex existente no mercado interno, onde 3 milhões de novos carros entram por ano;

c) teria etanol suficiente para exportar aos EUA, onde o produto feito de cana é privilegiado por ser considerado um combustível avançado, gerando mais US$ bilhões em exportações;

d) deixaria de importar gasolina e diesel, que no primeiro semestre deste ano contribuíram com um buraco bilionário na balança comercial;

e) por outro lado, seria exportador de gasolina e petróleo, contribuindo positivamente para a balança comercial;

f) teria grande volume de biomassa para co-gerar nas Usinas eletricidade limpa para o crescente mercado interno brasileiro;

g) teria mais matéria prima para gerar os novos produtos promissores que se abrem a este setor, como o plástico, o diesel, o querosene e a gasolina de cana e muitos outros;

g) retomaria milhares de empregos perdidos nos polos produtores de equipamentos (bens de capital, notadamente Sertãozinho e Piracicaba).

h) geraria uma quantidade brutal de impostos com estes investimentos e com a venda do açúcar, etanol, eletricidade e outros produtos nos próximos anos.

i) o ar das nossas cidades, com os automóveis andando com etanol, seria bem mais limpo.

É melhor parar por aqui para não terminar com as “letras do vocabulário”. 

Cada um destes itens merece um cálculo específico, mas afirmo que para um país que deve fechar a balança comercial deste ano com um saldo de apenas US$ 15 bilhões, e que o FMI prevê que a mesma será deficitária em US$ 3 bilhões em 2017, estas 68 Usinas inverteriam, com a redução de importações e aumento de exportações, pelo menos uns US$ 15 bilhões na balança comercial brasileira.

Confesso que é difícil aceitar que uma obra fique nove vezes mais cara que o orçamento inicial, que fique três vezes mais cara que similares internacionais, que o nosso parceiro venezuelano na refinaria não tenha aportado um parafuso sequer, e que todos estes possíveis benefícios econômicos, ambientais e sociais da cana e do etanol não sejam vistos pelo Governo, pelas ONG’s e pela sociedade brasileira.

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento e estratégia na FEA/USP Campus Ribeirão Preto e coordenador científico do Markestrat.

Compartilhar: