Seis passos para melhorar a citricultura brasileira já em 2011

Seis passos para melhorar a citricultura brasileira já em 2011

MARCOS FAVA NEVES

Folha de São Paulo, Caderno Mercados, 28/05/11

Foram divulgadas duas estimativas para a safra de laranja, com alguma diferença entre elas. Ambas trazem uma informação que tanto o agricultor como o cidadão urbano ficariam felizes em receber: uma safra grande e produtiva.

Porém, diferentemente de outras culturas do agro, na laranja isso pode ser uma má notícia, pois pode representar prejuízos aos produtores e industriais, e, consequentemente, para o Brasil. Isso se deve a características sui generis dessa commodity, que tem incrível volatilidade, prejudicando toda a capacidade de planejamento e, no final, causando desconforto e exclusão.

A citricultura necessita de seis grandes ações em 2011, algumas emergenciais.

Como defendido nesta análise em novembro de 2010, a primeira ação emergencial deve ser na composição e na administração de estoques. Esses estoques seriam importantes para o abastecimento contínuo do mercado interno, para o suprimento da merenda escolar e teriam efeitos benéficos até em controlar a inflação. Esses estoques de segurança trariam mais renda e ainda uma redução na volatilidade do suco e da fruta, beneficiando os envasadores europeus, que teriam possibilidade de previsão.

A segunda ação, ligada à primeira e cuja conclusão deveria ser ainda em 2011, é a definitiva implementação do Consecitrus, num ambiente de boa representatividade, harmonia e discussão conjunta dos problemas e soluções. O momento é agora.

Informação sistemática do setor também é necessária. Houve grande avanço na difusão de informações desde 2010, com abertura de muitos dados até então estratégicos das indústrias, mas é preciso mais, desde profundidade e frequência na divulgação de informações, montando uma rotina, como existente nos Estados Unidos. Aí sim a confiança vai crescendo entre seus elos.

A quarta ação é a efetiva busca do desenvolvimento do mercado interno, desonerando o suco de tributos, inserindo fortemente nas compras públicas (merenda) e o marketing do setor, pois o consumo per capita no Brasil ainda é de 12 litros por ano, volume muito baixo.

A quinta ação é ampliar o apoio técnico e financeiro aos citricultores pelos órgãos oficiais para melhoria da eficiência e da produtividade. Aproximadamente 45% dos hectares com laranja estão produzindo menos de 500 caixas cada um. Com essa produtividade, em terras cada vez mais caras, fica difícil sobreviver na atividade. É necessário mais compartilhamento de informações para uma gestão mais adequada das propriedades, pois ainda existe grande variação nas praticas administrativas.

Finalmente, fortalecer a pesquisa para que as doenças e pragas que vêm drenando as margens do setor possam ser mais adequadamente combatidas, bem como novas variedades, técnicas de cultivo e plantio para que os custos possam ser cada vez menores. Isso tudo sem falar do câmbio, mas aí não há nada a fazer.

Essas ações podem vir ainda neste ano, contribuindo para que essa cadeia produtiva possa resultar em mais recursos e mais qualidade de vida para a sociedade, além dos já propiciados em 40 anos de atividade no país.

MARCOS FAVA NEVES é professor titular de planejamento na FEA/USP (Campus Ribeirão Preto) e coordenador científico do Markestrat.

 

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