Diga-me o que tu postas

Diga-me o que tu postas

Tome alguns minutos do seu tempo, se é que já não faz isso naturalmente, e percorra as redes sociais dos seus amigos virtuais. Veja as postagens, as fotos, os textos e o que cada um escolhe expor para seus seguidores on-line. Não sei quem você acompanha pelo Facebook ou Instagram, mas posso te fazer algumas afirmações sobre o que você vai encontrar, antes mesmo de você começar:

Excluindo, completamente, o assunto política do rol de análise, começo a lista. Frases de efeito, sejam elas indiretas a alguém (e talvez você nunca descubra o alvo, mas pode se entreter tentando) ou reafirmações de uma vida mais plena, mais correta, mais pura e com mais paz. Frases que reforçam a fé, na religião ou na força superior que seja. Memes. Compartilhamentos de conteúdos profissionais, seja um texto escrito ou o registro da participação em algum evento. Fotos muito bem-sucedidas: pode ser de uma viagem, uma palestra ministrada (minhas redes sociais, particularmente, estão cheias de palestrantes, talvez pelo meio em que vivo e trabalho), um projeto concluído... um sem número de registros que ilustrem o quanto seus amigos se dão bem na vida, ou estão realizados naquele momento. 

Expor o suposto sucesso ou as boas coisas da vida virou sinônimo de reafirmação social e quase uma condição “sine qua non” nos tempos a atuais. É de se estranhar se alguém não está presente nas redes sociais e se não tem um perfil ativo, publicando e compartilhando os melhores momentos da vida. Quem não publica fotos ao lado de outras pessoas, com frequência, levanta suspeita: será que não tem amigos? Será que não se diverte?

A humanidade sempre esteve na corda bamba, entre o sofrimento e a felicidade. O primeiro, muitas vezes, camuflado pelos recursos expositivos que nos forçam a mostrar o que nem sempre é real. 

Marco Valério Marcial, epigramatista latino do século I, atestou: “sofre deveras quem sofre sem testemunhas”. Na cultura moderna, em que buscamos o sucesso a qualquer custo e veneramos os líderes inabaláveis, mostrar as fraquezas é quase um crime. É daí que vem, também, a tal solidão do poder. A robusteza ou o fôlego do comando parecem ser prejudicados a cada demonstração de que a vida não vai tão bem quanto parece e é por isso que grandes chefes tendem a não compartilhar as fragilidades.

Nem tudo é como a tela do smartphone ou do computador mostram. Nem tudo é como se posta. E, lá no fim, talvez tudo isso não faça tanta diferença assim. Podemos, tarde demais, descobrir que demos atenção ao que é menos importante.

A escritora norte-americana Maya Angelou escreveu que, em suma, “as pessoas vão esquecer o que você disse e vão esquecer o que você fez, mas nunca vão esquecer como você fez elas se sentirem”.

Postar nas redes sociais é divertido e estar em contato com companheiros virtuais pode ser um ótimo passatempo, também. Mas quantas vezes você perguntou para seu amigo como ele se sentia nos últimos dias? E quantas vezes você mesmo tentou se distrair compartilhando qualquer coisa que não estivesse tão conectada ao que você sente naquele momento? Prestar a atenção no mundo à nossa volta é fundamental e conhecer o outro é indispensável. Mas, estar atento a si mesmo e saber como você realmente tem passado é mais importante do que tudo isso junto. 

Compartilhar: