Duvidar é preciso

Duvidar é preciso

Na última semana, estive no Colégio Auxiliadora, aqui em Ribeirão, para participar de um debate sobre fake news destinado aos alunos do Ensino Médio. Foi uma aula multidisciplinar, junto dos professores de História, Redação, Filosofia e Literatura, com o objetivo de discutir a preocupante propagação de notícias falsas e ampliar o repertório dos estudantes que se verão diante da prova de vestibular em alguns meses. Com frequência, temas que possuem destaque no noticiário aparecem nas questões ou na proposta da redação. Por isso, as fake news foram escolhidas pelo colégio como o assunto do debate.

 A mim, a maior preocupação no que diz respeito aos adolescentes (no caso dos alunos, as idades oscilavam entre 14 e 17 anos) tem a ver com o hábito que se constrói hoje. Mundialmente, vivemos a cultura dos “leitores de manchete”. Tem tanto, mas tanto, conteúdo passando pela rede social de cada um que é, reconheço, muito difícil fazer a leitura completa de todas as notícias publicadas aos montes. No entanto, ler apenas os títulos de absolutamente todos os links não oferece profundidade de conteúdo, tampouco o mínimo conhecimento necessário para que o internauta saiba o assunto e possa formar uma opinião a respeito do que foi publicado.

 Ler tudo o que rola nas redes sociais é mais impossível (se é que isso existe) do que ler todos os livros já publicados no mundo. Segundo o contador on-line Internet Live Stats, o total de páginas existentes na web é de 1,9 bilhão, enquanto escrevo este texto. Segundo as informações da plataforma, 200 milhões estão ativas. 

 A primeira página criada virtualmente foi o World Wide Web Project (o famoso www do início dos endereços virtuais), em 1991. No ano seguinte, 1992, eram 10 sites no ar. Já o ano passado, 2017, de acordo com o Internet Live Stats, fechou com 1.776.926.408 endereços digitais – um aumento de mais de 700 milhões de páginas com relação a 2016.

 O crescimento exponencial e incontrolável dos domínios na web tem inviabilizado qualquer regulação sobre o que é publicado, a despeito das legislações de cada país. A discussão sobre como organizar o conteúdo ou estabelecer regras do que é permitido divulgar chegou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — muito em razão das eleições de 2018 —, afinal, política é um terreno fértil para aflorar os ânimos e todos nós sabemos disso. No entanto, o resultado da preocupação das autoridades ainda não pode ser visto e inúmeras notícias falsas continuam a circular.

 É importante que as escolas e as instituições educacionais se atentem para o fenômeno das fake news e o quanto a propagação dos boatos pode ser prejudicial à construção de uma sociedade e à convivência entre os cidadãos. Estimular a discussão sobre o assunto, propor debates e orientar o questionamento acerca de qualquer informação a que se tem acesso é fundamental na formação dos alunos. Os jovens que questionam hoje, possivelmente, serão os adultos sensatos de amanhã.  

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