É ou não é?

É ou não é?

Pode parecer absurdamente simples classificar uma notícia como falsa ou verdadeira, não é? Para quase 70% dos brasileiros, no entanto, o conceito e a distinção não são tão claros assim. A pesquisa “A Cara da Democracia no Brasil”, realizada pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, apontou que apenas 23,9% dos entrevistados dizem desconfiar das notícias sobre política que recebem. O número aumenta para 45,7% se forem consideradas as respostas dos que declararam usar plataformas de redes sociais na web para obter informações sobre o tema. 

O estudo, conduzido pelos pesquisadores Marisa von Büllow e Max Stabile, também concluiu que não há diferença significativa entre classe social, localização geográfica, sexo, idade ou grau de escolaridade daqueles que mais acreditam em notícias falsas.  O mal parece estar disseminado ampla e irrestritamente.

Ainda que os céticos custem a acreditar, comprovou-se, em análise da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o uso orquestrado de redes de robôs para a manipulação de debates virtuais — tanto no processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, quanto nas eleições municipais do mesmo ano e na greve geral de 2017. O estudo da FGV mostrou que os perfis automatizados distorceram o debate de várias maneiras e, uma das principais, foi a propagação das fake news.


“Ouse saber”
Immanuel Kant


O tema das notícias falsas tem sido amplamente debatido e a preocupação e o interesse em torno do assunto cresceram a partir do pleito presidencial dos Estados Unidos, quando a vitória de Donald Trump sobre Hillary Clinton levantou suspeitas acerca de uma possível adulteração das informações divulgadas — para não dizer outras coisas, ou levantar outras hipóteses. Seguimos.

É fato que o terreno desconhecido torna tudo ainda mais misterioso: as ferramentas e os interesses por trás das manipulações e o resultado que tudo isso pode ter na (de)formação da sociedade são incertos. Caberia, aqui, a famosa frase: agora, quem poderá nos defender?

No livro “Pós-verdade: A nova guerra contra os fatos em tempos de fake news”, o jornalista britânico Matthew D’Ancona afirma que a honestidade e a exatidão não são mais consideradas a maior prioridade nas trocas políticas. No fenômeno atual que vivemos, a emoção tem mais valor que a razão: preferimos acreditar naquilo que nos faz bem, em vez de analisarmos a fundo o que é uma possível mentira, ou uma verdade deturpada. 

Algumas ferramentas e atitudes são reiteradamente divulgadas no reforço de combate às fake news. Além do “Comprova, Revide”, que está presente em nosso Portal e esclarece os principais boatos da região de Ribeirão Preto, pequenos gestos podem contribuir com uma comunicação mais sustentável e menos esquizofrênica: checar as fontes das notícias antes de compartilhar, conferir a data, pesquisar outra fonte que tenha noticiado a mesma informação, ler a reportagem inteira e checar o histórico de quem publicou. Na dúvida, é certo: melhor não compartilhar. 

Em ano de eleição, com emoções e nervos ainda mais à flor da pele, o cuidado deve ser redobrado, pois qualquer faísca se transforma em incêndio — o problema é que podemos não ter tempo de apagar o fogo antes do estrago.  

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