Inimigo público

Marina Aranha

15 Fev 2018 09:32

Mexeu com as redações – e com os jornalistas - a decisão da Folha de S. Paulo, divulgada na última semana. O jornal impresso brasileiro que mais possui seguidores no Facebook (quase 6 milhões) anunciou que deixa de publicar notícias na rede social, a princípio, para sempre. A página será mantida, mas não será atualizada com novos conteúdos, segundo comunicado.

A medida gerou debates virtuais em todas as instâncias. O próprio compartilhamento da novidade na página da Folha rendeu todos os tipos de comentários, favoráveis ou não, à medida do jornal.

Alguns acusaram a empresa por arrogância e elitismo, ao se distanciar de uma massa brasileira que está presente na plataforma de Mark Zuckerberg. Ao todo, segundo estudo realizado pela agência We Are Social e a Hootsuit, 59% dos 139 milhões de brasileiros que possuem acesso à internet estão no Facebook. Outros defenderam a coragem do veículo.

A Folha justifica a decisão pela saída a partir das mudanças de algoritmo da rede social, que passou a priorizar a divulgação de conteúdo pessoal em detrimento às publicações difundidas por empresas, como as jornalísticas. Para o jornal, “isso favorece a tendência do usuário a consumir conteúdo com o qual tem afinidade, favorecendo a criação de bolhas de opiniões e a propagação das fakenews”.

Não há como negar a hostilidade crescente no Facebook, em que, a cada dia, fica mais difícil compartilhar opiniões sem receber, em troca, agressões ou xingamentos. A intransigência tem sido imperativa na terra das relações virtuais.

Se a decisão da Folha surtirá efeito ou repercutirá entre outros veículos de comunicação, ainda é cedo para saber. É certo que o impacto da medida provocou alguns questionamentos e favorece a reflexão. 

Perde a Folha ao sair da maior rede social ativa do mundo, ou perdemos nós, usuários da rede, que deixamos de ter contato frequente com um veículo que produz jornalismo profissional, no mar de notícias falsas em que estamos imersos? Por enquanto, tendo a acreditar na segunda opção.