O melhor pior ano da minha vida

O melhor pior ano da minha vida

Talvez este texto tenha a cara típica daquelas postagens longas de fim de ano, que interessam mais ao autor do que a quem lê, e que já começam a pipocar por aí. Pode, até, parecer certo provincianismo utilizar esta página como tábula rasa à minha reflexão, até por este ser um espaço destinado a um trabalho e não a lamúrias pessoais. É que fins de ano trazem consigo certa permissividade carregada de boa dose emocional.

É certo que eu poderia usar as minhas redes sociais para reproduzir o que escrevo aqui, mas não as tenho há certo tempo. Foi uma das minhas boas descobertas deste ano: existe (muita) vida além das telas do computador e do smartphone. Claro que também há muita movimentação dentro dessas pequenas polegadas e, até este ponto da minha vida, é em função delas que trabalho, a despeito das incertezas quanto ao futuro da comunicação digital. Mas hoje, com certa licença poética (e corporativa), não escreverei sobre jornalismo ou notícias em tempo real e iniciativas afins. É tempo de festa sua, festa nossa, de quem quiser – e de todas as reflexões de fim de ano.

Em 2018, eu descobri o amor - e vou tentar ser sucinta, embora seja, esta, uma afirmação tão complexa. Em março, perdi minha última avó viva e que, por alguns anos, foi a única a participar de todos os acontecimentos da minha família. Parece infantil, mas até hoje não me acostumei com a ausência dela. Em maio, consegui me reconectar com duas das minhas melhores amigas da vida, que conheço há exatos 20 anos, em uma viagem ao Peru. Acho que foi nessa tal aventura que passei os maiores transtornos tão longe de casa (obrigada ao “soroche”). 

Em junho, a pior notícia do ano: descobri que meu pai está com leucemia. Está, não tem. Como tudo na vida, também há de ser uma condição passageira. E foi justamente essa a mais dolorosa experiência do ano, que me fez dimensionar meu privilégio de estar cercada das melhores pessoas desse mundo – virtual e fisicamente. Aqui, uma ilustração: por causa do tratamento, meu pai precisou tomar sangue e plaquetas. Ele usou boa parte do estoque do banco a que vai, em Campinas. Era preciso reposição. Foi tanta gente doar, que ligaram em casa pedindo para parar, porque não iam ter como armazenar – se isso não é amor, não sei o que seria. Grande parte de tudo isso (senão tudo) devemos à minha mãe, muito querida e, com razão, admirada onde trabalha e por onde passa. 

Em agosto, eu completei 30 anos e até cogitei fazer uma festa, embora nem goste muito disso. Só que, no meio de tanta turbulência, comemorar não me parecia opção. Passei o dia 30 de agosto metade lá e metade cá: peguei a estrada para estar em Campinas e em Ribeirão Preto no mesmo dia, perto de quase todas as pessoas que me importam. 

Por várias vezes, eu disse que 2018 foi o pior ano da minha vida. De fato, talvez tenham coincidido algumas das minhas piores experiências, mas nunca vivi tão intensamente tudo o que me apareceu. A tal crise dos 30 passou que eu nem vi, completamente eclipsada pelos acontecimentos que me foram impostos. Perdi amigos, ganhei amigos. Perdi medos e ganhei coragens. Administrei distâncias pelo WhatsApp. Tudo isso porque descobri o amor e não estive só um minuto sequer. 

Eu citaria nominalmente todos que estiveram do meu lado, mas aí seria abusar da boa vontade de quem, generosamente, leu até aqui. O que posso dizer é que se hoje sei reconhecer a importância de todas as pessoas incríveis que estão na minha vida, é porque a maravilhosa família que Deus me deu me ensinou que não importa a guerra, o que importa é quem está do seu lado nela. 

Eu descobri o amor, mas foi mais do que isso: eu descobri que eu tenho os melhores amores do mundo, analógicos e digitais, perto de mim. O problema é que só não descobri, ainda, como agradecer a cada um. Escrever é pouco, mas é tudo o que sei fazer, nos mundos on-line e off-line. E tecnologia nenhuma haverá de substituir a gratidão. 

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