Onde vivem as semelhanças

Onde vivem as semelhanças

Toda hora, o Facebook indica uma lista de possíveis amigos. São sugestões de novos contatos a partir de alguns tantos milhões de misteriosos algoritmos, que podem propor adicionar à rede alguém que vive perto de você, frequenta os mesmos lugares, curte as mesmas páginas ou é amigo de amigo. Vai saber.

As sugestões das redes sociais são baseadas em nosso comportamento virtual, embora haja muita incerteza sobre quais seriam, de fato, os critérios usados pelos aplicativos. Dizem por aí, por exemplo, que se você xeretar o perfil de alguém irá aparecer como indicação de possível amigo a quem foi vasculhado. É uma hipótese e conheço muita gente que deixou de ficar bisbilhotando por aí em razão das suspeitas.

Como, atualmente, não é possível que os algoritmos tenham acesso a nosso comportamento off-line, totalmente fora das redes (prepare-se, porque esse dia ainda vai chegar...), as sugestões ainda podem ser superficiais: lugares, preferências e amigos em comum, por exemplo. Será que isso seria suficiente para estabelecer uma relação?


“No fundo de um buraco ou de um poço, acontece de descobrir-se as estrelas”
Aristóteles



Tenho muitas amigas parecidas comigo, mas outras tão diferentes que, se alguém nos vê na rua, fica difícil imaginar o que é que nos une. Às vezes, nem eu sei muito bem como eu me aproximei das pessoas com quem me relaciono. Como a frase do célebre Chicó, personagem de Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida, “só sei que foi assim”. É fato que algum denominador comum, em algum momento, desencadeou empatia e afeto, a despeito de qualquer aparente distinção, e esses sentimentos foram os responsáveis pelo encontro de outras semelhanças ao longo da convivência.

Quando as redes sociais indicam alguém para uma nova amizade, é impossível medir a possibilidade de sucesso dessa relação. Da mesma maneira que, por informações bem superficiais, você pode escolher um possível par romântico em aplicativos de relacionamento: tem tudo para virar casamento, desde que as afinidades avancem para além das poucas polegadas da tela de um smartphone. Pode ser que as informações mais generalistas sejam o início de uma relação que cresça nas diferenças — ou que outros gostos e costumes iguais surjam ao longo do tempo. 

Uma das maiores críticas às redes sociais e à tecnologia é o distanciamento que as duas foram capazes de causar às relações humanas e afetivas. Via de regra, passamos a nos comunicar e nos conectar por canais digitais e deixamos de conhecer gente que vale a pena só porque, aparentemente, elas não têm nada a ver com o que achamos que somos. Além, claro, de termos deixado de interagir no mundo real com quem já compartilhamos sentimentos e relações.

Apenas por aparências e informações rasas, talvez eu não tivesse os amigos que tenho hoje, simplesmente por achar que, a grosso e virtual modo, não temos paridades. Agindo assim, eu teria perdido ótimas pessoas. E você? 

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