Para mais ou para menos

Para mais ou para menos

Quem acompanha com frequência as notícias neste período eleitoral certamente já ouviu, incontáveis vezes, a expressão “para mais ou para menos”. É a famosa margem de erro, presença constante e indispensável nas pesquisas de intenção de voto. Esses levantamentos, que sondam a opinião dos eleitores antes do pleito, são frequentes no Brasil há um bom tempo. A diferença é que, em 2018, especificamente, criou-se uma celeuma acerca da assertividade dos números.

Casos que ilustram essas incertezas ocorreram nas corridas pelos governos dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Na disputa carioca, o político mais votado, e que seguiu ao segundo turno em primeiro lugar, aparecia em terceiro lugar, sem chances de seguir no pleito. Em São Paulo, o terceiro colocado nas pesquisas foi, nas urnas, o segundo mais votado, o que mudou as possibilidades dos eleitores no próximo dia 28 de outubro.

Quanto à disputa presidencial, embora dados concretos e comprovados não assinalem, é fato que a divulgação de pesquisas com frequência influenciou o comportamento do eleitor – e, consequentemente, o resultado final. O chamado “voto útil”, em que se tenta aproveitar a escolha para colocar um candidato teoricamente mais forte no segundo turno (ainda que não seja a opção ideológica inicial) ganhou força e mexeu na postura de muita gente na hora de enfrentar o teclado das urnas eletrônicas.

Há quem critique a divulgação de pesquisas antes das eleições. Quão estranho seria, imagine, ir às urnas sem a divulgação de um dado sequer, completamente às cegas? Além de mexer na cabeça do eleitor, as estatísticas também influenciam o comportamento dos candidatos. No segundo turno das eleições presidenciais, por exemplo, um dos postulantes afirmou que não participará de debates. Será que ele teria a mesma postura sem saber que está bem à frente nos levantamentos? Na França, por exemplo, as pesquisas de intenção de voto são proibidas duas semanas antes do pleito. O objetivo da medida é abrandar o impacto das estatísticas na escolha dos governantes – o que, também, influencia menos a estratégia dos candidatos.

Entrevistado pelo podcast Estadão Notícias, Jairo Pimentel, cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirmou que o fenômeno de incongruência entre os dados preliminares e o resultado das eleições tem ocorrido no mundo inteiro, não apenas no Brasil. “As pesquisas não estão captando com antecedência o resultado das urnas. E isso tem a ver com mudanças de última hora. Os eleitores perderam as referências de longo prazo para decidir o voto”, disse o cientista político.

No fim, a margem de erro é mera coadjuvante, embora seja sempre citada. Os números têm sido divergentes e isso não é culpa da metodologia das pesquisas. É resultado das incertezas e da instabilidade dos eleitores – humanos, acima de tudo, e totalmente influenciáveis por questões externas. A esperança, nesse caso, é que toda essa inconstância se reverta em prosperidade ao país. Neste momento, no entanto, a expectativa não é das melhores, para mais ou para menos. 

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