A parte que cabe

A parte que cabe

Durante a greve dos caminhoneiros que afetou o país, todos nos vimos vulneráveis às fake news. Como sempre, as mentiras se alastraram, catalisadas, ainda mais, pelo WhatsApp. O aplicativo de mensagens instantâneas foi poderoso tanto na articulação dos manifestantes quanto na propagação de notícias falsas.

Durante os 11 dias de paralisação, o Comprova, Revide (seção do nosso Portal que objetiva desmascarar os boatos que ganham as redes) desmentiu cinco fake news que surgiram durante as manifestações. Uma delas dizia que haveria intervenção militar, outra afirmava que o litro da gasolina custaria R$ 9,89 em Ribeirão Preto. Houve até informação sobre uma possível nova paralisação dois dias depois do fim da greve. Tudo era mentira e foi esclarecido pela nossa equipe.

Um belo dia, durante uma conversa na redação, justamente na elaboração de uma das matérias do Comprova, surgiu o questionamento sobre a validade da publicação de textos que desmentem os boatos. Será que publicar uma notícia, ainda que desmascarando a mentira, não seria dar ainda mais valor às fake news? 

Desde criança, ouvimos que, se não dermos ouvidos às provocações, quem está nos provocando desiste de fazê-lo. Talvez quem defenda que não desmintamos as fake news parta do mesmo pressuposto. É fato, no entanto, que o fenômeno das notícias falsas tem ganhado espaço justamente pela falta de regulamentação da vida on-line. Não há legislação específica para muitas das transgressões cometidas na web e fica difícil, assim, estabelecer a cordialidade. Esperar que as fake news desapareçam sozinhas é deixar a sociedade abandonada à própria sorte, diante de um fenômeno cujas consequências ainda são desconhecidas. 

É também responsabilidade do jornalista educar e orientar, por meio da informação bem apurada e correta. Nesse cenário cabe, portanto, que não apenas nos atentemos em noticiar a verdade, mas, também, que nos posicionemos de maneira ferrenha contra a difusão de boatos que prestam desserviço incalculável ao que ainda podemos chamar de cidadania. 

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