Por Mônicas e Pedros

Por Mônicas e Pedros

Dizem que o Jornalismo está acabando e são muitos os indícios que comprovam esse fim iminente. Redações cada vez mais enxutas, salários baixos, excesso de carga horária, falta de recursos que financiem a mão de obra, assinaturas impressas minguando, baixo rendimento da mídia on-line e um sem número de internautas que podem compartilhar tudo, a todo momento. E se tanta gente pode divulgar o que quer, na hora em que quer, por que ainda precisaremos confiar o poder da informação, e do compartilhamento de conteúdo, a alguns profissionais específicos, e não a qualquer testemunha do que quer que seja?

Faz 10 anos que trabalho com Jornalismo e passei a maioria desse tempo em jornais diários, boa parte deles impressos. Estive em redações grandes, com mais de 50 jornalistas, e hoje acompanho, como tantos colegas, o mercado se retrair. Por décadas, decidimos apontar o dedo, encontrar algozes e ainda insistimos nisso. Ora a culpa é da tecnologia, ora dos leitores, ora da aversão ao investimento por um bom conteúdo. Perdemos tempo procurando inimigos e acordamos, muito tarde, para a busca das soluções. 

Apesar do cenário um tanto inóspito, confesso ainda ter esperança de que é possível fazer uma comunicação que valorize a importância do repórter, do veículo e de tantos profissionais envolvidos nessa grande rede de trabalho — que muita gente nem imagina quão grande é. Nos últimos dias, inclusive, o noticiário deu provas de que bons jornalistas ainda podem conquistar o que bilhões de usuários das redes sociais nem sempre conseguem: um grande furo de reportagem e uma mobilização nacional.


“A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.”
Aristóteles



Sem entrar no mérito do verdadeiro ou falso, é fato que o jornalista Pedro Bial divulgou uma grande história, que mexeu com muita gente e alcançou os quatro cantos do país: a denúncia de abuso sexual envolvendo o médium João de Deus. Bial foi o primeiro a noticiar o caso, em 7 de dezembro, entrevistando mulheres que teriam sido abusadas em Abadiânia, onde João de Deus atendia. O programa do jornalista, no entanto, chamado Conversa com Bial, foi totalmente alterado no dia em que entrevistou uma dançarina holandesa que denunciou os supostos abusos: a banda e o auditório, sempre presentes, não participaram. Era outro cenário, outro contexto, bem mais intimista, com uma grande história.

Desde então, mais de 300 mulheres procuraram o Ministério Público para contar suas histórias e denunciar o médium. No domingo, dia 16 de dezembro, quando ele se entregou, a jornalista da Folha de S. Paulo, Mônica Bergamo, acompanhou de perto. Estava com João de Deus quando ele foi ao encontro dos policiais. Mônica conseguiu imagens e falas exclusivas do denunciado, que foram compartilhadas à exaustão por outros veículos de imprensa, no mesmo dia, poucos momentos depois. 

Pedro Bial e Mônica Bergamo mostraram o motivo de o jornalismo e jornalistas ainda serem fundamentais para a boa e eficaz informação. As grandes histórias, a apuração de qualidade e a chancela de importantes veículos que reproduzem as notícias são a força motriz da comunicação que, há tantas décadas, segue incerta, com uma morte insistentemente anunciada, mas que pode ser revertida a partir de uma palavra bonita, que pode ser transformada em atitude: a valorização daquilo que se produz e se consome — no papel, na TV ou no mundo virtual. 
Que mais Mônicas e Pedros ainda tenham coragem de surgir por aí. 

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