Sempre alerta

Marina Aranha

30 Nov 2017 15:27

Na última semana, uma autoconsiderada socialite brasileira, radicada no Canadá, publicou nas redes sociais um vídeo em que tece comentários preconceituosos e racistas à filha dos atores Bruno Gagliasso e Giovana Ewbank. Titi, de quatro anos, foi adotada pelo casal em Malawi, no Sul da África. 

No vídeo, a socialite chama a garotinha de “macaca”, “horrível” e “cabelo de pico de palha”. Pesado, né? Já seria agressivo para quem é adulto, agora imagine para uma criança de menos de cinco anos, que pode crescer em um planeta onde esse tipo de comentário é propagado. Afinal, não raros são os casos e denúncias contra discursos preconceituosos, a despeito de uma grande movimentação (ao menos virtual) contrária a esse tipo de comportamento.

Certa vez, o escritor italiano Umberto Eco afirmou que “as redes sociais deram voz aos imbecis”. Verdade dura. Ao analisar esse pensamento, o historiador brasileiro Leandro Karnal, em entrevista à jornalista Marília Gabriela, afirma que, antes, o racista preconceituoso expressava sua ideia em uma mesa de bar. Naquele tempo, publicar um livro com todas essas opiniões demandava um grande esforço e as ideias não chegavam longe. Hoje, a divulgação está mais fácil: basta abrir um perfil em qualquer rede social e “voilà”.

A mesma internet que hospeda comentários racistas contra uma criança de quatro anos, também hospeda a boa entrevista de Karnal, que nos faz refletir sobre o que, de fato, estamos fazendo conosco e com os outros. 

Dizem que se incomodar tanto com o outro e denegri-lo diz muito mais sobre nós mesmos do que sobre nosso alvo. Isso vale para as irritações cotidianas e para posturas tão preconceituosas que transcendem a internet e se transformam em caso de polícia. Os pais de Titi registraram boletim de ocorrência em função dos comentários a respeito da filha.

As redes sociais democratizaram a opinião, mas não devem mudar os princípios que carregamos por toda a vida. Por isso, vale uma curadoria preciosa para definir entre aquilo que nos está disponível e o que devemos absorver na web. É preciso estar sempre alerta. 

Foto: Reprodução Facebook