Ser humano

Ser humano

Um dos meus livros da vez é o Todo Mundo Mente, do ex-cientista de dados do Google Seth Stephens-Davidowitz. Basicamente, o autor defende que todas as pesquisas de opinião a que já tivemos acesso estão erradas. O motivo? O próprio título da obra: todo mundo mente.

Há, no entanto, um meio de saber o que nós pensamos. Segundo Seth, a internet reúne dados que, finalmente, dizem a verdade sobre o comportamento humano, diferente daquilo que homens e mulheres afirmam quando questionados pessoalmente. À web, diz o livro, nós informamos tudo sem receio.

Para destrinchar opiniões, preferências e comportamentos, o autor detalha os dados a partir de pesquisas que todos nós fazemos on-line. De acordo com ele, não digitamos apenas para tirar dúvidas, mas também para desabafar. “Odeio meu chefe”, “estou bêbado” e “meu pai me bateu” são algumas das expressões escritas nos buscadores.

Que todos nós mentimos com certa frequência, por menor que seja a falácia, a literatura e o cinema estão fartos de contar. É sabido que a honestidade é qualidade primordial no caráter de qualquer pessoa e que a falta dela tem nos levado às mazelas da corrupção. Mas por que resolvemos contar a verdade justo para dispositivos eletrônicos sem saber para onde vão aquelas informações?

Depois do escândalo da falta de privacidade envolvendo a rede social mais acessada do mundo, o Facebook, a pulga da desconfiança fica atrás da orelha. A verdade é que a insegurança dura apenas alguns dias, ou nem isso. Horas depois da notícia, seguimos compartilhando informações no mundo virtual, porque isso parece ser mais forte do que qualquer receio.

É fato que nosso comportamento tem mudado e os padrões e métodos que vigoravam há 100 anos se transformaram bruscamente. Dizemos, hoje, para uma tela de computador o que não dizemos aos nossos melhores amigos. E não sabemos aonde isso vai chegar. “Saberemos cada vez menos o que é um ser humano”, diz a epígrafe do livro Intermitências da Morte, de José Saramago. Talvez não exista melhor frase para retratar o momento que vivemos. 

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