Som e fuga

Som e fuga

O primeiro livro que li do Nick Hornby foi Alta Fidelidade, que pode ser considerado o precursor das tais listas que tomaram conta da internet. O personagem principal, Rob, de 35 anos, encerra um relacionamento e entra em profunda reflexão, relembrando seus cinco piores términos. Segue, depois, por uma série de outras listas. E se questiona, em determinado momento: “O que vem antes, a música ou o sofrimento? Eu ouvia essa música porque sofria? Ou sofria porque ouvia música?”

Toda semana, eu acesso a playlist de lançamentos musicais organizada pelo Spotify. É uma miscelânea de estilos, mas, felizmente, com certa frequência, encontro alguma novidade que me agrada. Nas últimas semanas, a grata surpresa foi Life on Earth, do Snow Patrol. 

Poucas coisas me levam para tão longe quanto as músicas. Eu me lembro exatamente de uma música da minha playlist de 2010, primeiro ano em que morei em Ribeirão Preto. Mais do que isso: tenho uma sensação extremamente específica quando a ouço. Consigo me transportar para o sentimento do primeiro emprego, da primeira rotina, dos primeiros ônibus tomados, daquele primeiro mês dormindo no chão – afinal, seria provisório. 

Oito anos depois, o provisório se tornou um definitivo temporário (se é que isso existe) e é sempre difícil responder se prefiro Campinas a Ribeirão Preto. É fácil, no entanto, catalisar as emoções vividas em qualquer um desses lugares a partir das músicas que ouvi lá ou aqui.

A nova música do Snow Patrol me lembrou meu querido amigo Nacim, que me gravou dois CDs da banda na faculdade. Eles rodaram no meu carro até riscar. Resolvi ouvir, de novo, esses dois discos enquanto trabalho. Enquanto ouvia, resolvi escrever.

Tem coisas que a tecnologia ainda não é capaz de fazer – e sabe-se lá se um dia será. Essa sensação, por exemplo, tão humana e tão própria, de voltar no tempo a partir de algum estímulo que realmente nos afeta (que, esse sim, pode ser tecnológico). Não sei se agradeço ao Nacim ou à banda. Talvez deva agradecer ao conjunto de fatores que me colocaram onde estou. 

Foto: Agustina Guerrero

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