O paradoxo do medo
O ser humano é, sem dúvida um dos mais complexos seres vivos deste planeta. Por mais que a racionalidade possa ser um grande diferencial da nossa espécie, são as emoções que assumem o papel principal de nos mover na vida.
Emoção nos move porque nos leva a atender uma necessidade, sendo a mais básica: a necessidade de sobrevivencia.
E é neste módulo operacional e inconsciente de sobrevivência que se observa o maior instrumento de controle social: o medo.
Foi esta emoção mobilizada pela necessidade de proteção que levou o homem a se organizar em sociedade e a pagar pelos cuidados de um reino ou governo. (antes, era a família que tinha esse papel, mas a medida que foi crescendo e sendo ameaçada, ela delegou esse papel para uma minoria empoderada)
Preço caro, mas quanto maior o medo, maior a dependência e o sentimento de valor que a comunidade depositava nesta elite reponsável em prover estrutura e condições para se viver em sociedade.
O paradoxo do medo é que ao mesmo tempo que ele é a emoção mais paralizante e alienante de todas, sem ele, não estaríamos vivos e muitos não seguiriam as regras de conduta ou as leis de convivência necessárias para se viver em comunidade.
Isso acontece porque o medo provém de um nível raso de consciência, relativo ao primeiro degrau de necessidade que atende interesses pessoais ou de uma coletividade escolhida.
Acontece que ao mesmo tempo que o medo protege da violência, ele gera a violência num ciclo tão perverso quanto sofrido.
A história da sociedade, por exemplo, foi construída com base na violência. E é este modelo mental baseado no ego e nas necessidades individuais (ou de uma coletividade em detrimento de outras) é que alimenta o medo e retroalimenta essa mentalidade separarista, individualista, e violenta.
Vivemos em uma grande rede sistêmica permeada de complexidade e interdendência. A falta desta visão sistêmica e da busca do bem comum tem alimentado o medo e causado autodestruição e sofrimento. No fundo e de maneira inconsciente, a alma sabe e sente o que é certo, assim como procura o pertencimento, a ordem e o equilíbrio.
O combustível mais inflamável da sociedade é, portanto, a própria injustiça frente as consequências do medo. Buscar a justiça é nato e comum da espécie humana e independe de idade, raça ou cultura social.
Por trás das diferenças, existe o que as pessoas têm em comum. O medo de ser pequeno, o medo de não ser aceito, o medo de não ser o suficiente, o medo de ser invadido, agredido, rejeitado... Quantas bandeiras de medo são levantadas pelas necessidades do ego. E é esse falso rei vestido de ganância que parte para conquistar mais ou eliminar a ameaça dos inimigos ou excluídos. Esta feita a roda da injustiça. E quem a gira? Cada um de nós.
Por mais que o medo leva escancaramente à violência, é a ganância que provoca a maior e mais perversa e encoberta violência: a corrupção.
Por medo e necessidade se elegem aqueles que são responsáveis em garantir dignidade, cuidado e proteção. E pela manipulação deste mesmo medo é que se mantem a co-dependência e a passividade de uma massa ignorante que nem imagina o poder que tem.
Mas o que é a ganância do que a própria ignorância disfarçada de necessidades sem limites e a qualquer custo? Mais terras, mais poder, mais conquistas, mais dinheiro, mais, mais,mais.
Só que ignorância, por mais que seja a causa por trás dos dois pólos sociais, não aciona movimentos sociais, pelo contrário, aliena.
O que move não é saber o quanto algo é injusto, mas é sentir a injustiça. Ela inflama a raiva, a indignação e a revolta.
Quantas revoluçoes sangrentas sob a bandeira da justiça eliminaram seres da mesma espécie?Quanta violência foi acionada pelo medo?
O que fazer?
Talvez, o outro paradoxo seja o próprio processo de lidar com o medo. Ao invés de destruí-lo (o que é impossível) ou evitá-lo (o que é mais desastroso), o caminho mais saudável seja reconhece-lo e integrá-lo de forma consciente e responsável. Afinal, ele só está vivo e pulsando dentro de cada um do nós para indicar alguma coisa, ou melhor, alguma causa maior ou necessidade não atendida.
Rejeitar o medo, dessa forma, incita tanta violência quanto alimentar o medo.
A verdade é que rejeitar só serve para atrair o objeto do próprio medo. Reconhecer o medo, assim como a raiva, a indignação e a injustiça é o passo mais libertador e possibilitador para um caminho mais saudável.
O que se faz necessário, portanto é conduzir essa energia emocional de transformação para uma ação que não seja destrutiva.
Este caminho, por sua vez, acredito, sinto e vejo que se percorre pela própria antítese do medo. E enganam se aqueles que pensam que é a coragem. O caminho é o amor. Não na sua poesia romântica distante da realidade, como como a fonte essencial que alimenta a nossa alma e nos traz saúde, paz e realização.
Coragem, só se for para se fazer parte do todo e agir com o coração em prol do bem comum. Desta forma, o amor não deixaria espaço para o medo e poderíamos ser o que já somos: um.
Quer saber mais sobre o medo? Leia o artigo que fala como superar o medo no trabalho.
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