Por que o dia do Trabalho é feriado?

Por que o dia do Trabalho é feriado?

Se existe algo que traz dignidade e a possibilidade de realização, esse algo valioso chama se trabalho. No entanto, a relação do homem com o trabalho (assim como a relação entre quem oferece o trabalho e quem o recebe) precisa urgentemente de reforma. O que aconteceu para que o trabalho fosse tão mal visto e essa relação, tão longe de ter um casamento feliz?

Por trás de quase todos os feriados, existe uma história trágica, o 1 de maio, o dia que ficou conhecido como o dia do trabalho, também não é diferente. Desde a mal compreendida “punição” divina junto com a expulsão do Paraíso até a própria história escrita pelo homem, que conseguiu transformar o trabalho em um verdadeiro inferno exploratório, o trabalho vem sendo visto e sentido, por muitos, como o próprio nome em latim (tripolis) revela: instrumento de tortura.

Na era industrial, as pessoas trabalhavam até 16 horas por dia, em péssimas condições de trabalho. Natural da época, uma vez que o empregado era visto como uma peça ou recurso descartável e facilmente substituível da grande máquina chamada empresa. Imagine o sofrimento e as lutas para se conseguir algo quando você nem é visto como uma pessoa! 

O 1 de maio foi um dia de luta pela carga horária de trabalho máxima de 8 horas, e reconhecido como uma conquista dos trabalhadores de Chicago em 1884. Depois disso, e nos outros anos, no mesmo dia, aconteceram outros protestos em diferentes lugares do mundo que foram reprimidos violentamente pela polícia. Somente com o tempo foi se conquistado o direito de celebrar essa data.

No Brasil, o 1 de maio surgiu com a imigração, e sua primeira tentativa de comemorar a data em 1893 foi fortemente reprimida pelo governo. Foi a partir de 1895 é que a data passou a ser comemorada sem problemas. As festividades vieram no governo de Getúlio Vargas, quando o presidente aproveitou a data para instituir o salário mínimo e outras conquistas dos trabalhadores.

 O 1 de maio só foi reconhecido feriado nacional em 1924 (outra fontes dizem 1925) pelo presidente Arthur Bernades. Era para ser uma data para homenagear os mártires do trabalho e possibilitar a confraternização da classe operária. Um jeito estranho de comemorar o trabalho…sem trabalhar.

Em 1941, na mesma data também foi criada a Justiça do Trabalho. Para continuar a história, o governo acrescenta a sua porção paternalista a favor da classe empregada e, longe de ser justa, engrossa o caldo e prejudica ainda mais uma relação que deveria ser de parceira e gratidão. Em 1943, no mesmo 1 de maio nasce a CLT (Consolidação das leis trabalhistas), uma conquista que buscava mais justiça e liberdade, mas que acabou puxando o freio de mão da economia e trazendo pesadelo para a classe dos empresários. (Aqueles que deveriam ser incentivados pelo governo e agradecidos pela sociedade.)

Sem empresas, muitos estariam sem trabalho. A verdade é que hoje, essa senhora de 74 anos chamada CLT, tão amada pelos funcionários, aprisiona os empresários, limita os que deveriam ser colaboradores e prejudica a relação entre eles. Além de reforçar a má fama do trabalho, a Justiça do Trabalho e a CLT é reflexo de uma cultura social invertida de valores. O desejado é o fim e não o meio - muitos trabalhadores querem somente os benefícios e o salário e não valorizam a própria oportunidade: de trabalhar, de crescer pessoal e profissionalmente e de contribuir. Do outro lado, o desejado é o resultado financeiro e a produtividade e não o propósito, a parceira, o desenvolvimento e o legado. Até quando veremos essa receita de insucessos e sofrimento, onde cada lado quer comer o bolo sozinho?

O principal ingrediente depende de uma grande mudança na cultura onde se resignifique o trabalho e resgate o seu maior propósito: realizar. O trabalho deveria ser motivo de agradecimento, já que todos sabem que ele dignifica o homem. A dignidade, por sua vez, é algo que se conquista. Somente assim, se dá valor. Tudo o que é dado, é visto como obrigação, e, aonde existe obrigação, não se encontra a gratidão! Por isso, tantos aprisionados, insatisfeitos, revoltados e frustrados.

Faz se necessário uma grande reforma política sim, mas antes dela uma reforma íntima. Sem amadurecimento e co-responsabilidade só encontraremos vítimas e algozes, reclamações e revoltas. Qual necessidade precisa ser atendida de empresários e empregados para que o trabalho possa fazer o seu trabalho e atender tantas necessidades básicas e extraordinárias do ser humano? De um lado, os empresários querem maior liberdade, leveza, velocidade e meritocracia nas suas relações com as pessoas que escolhem e escolheram trabalhar para sua empresa. Do outro lado, os funcionários querem salários justos, melhores condições de trabalho e oportunidade de crescimento. Será mesmo?

Vemos e ouvimos tantas notícias que mostram outras realidades. Relações desequilibradas com foco no melhor para si. Ainda existe muitos empregados que só querem tirar vantagem e lutar apenas pelos seus direitos e benefícios. Querem trabalhar menos e ganhar mais, fazer o que quer, na hora que quer e do jeito que quer. Como crianças mimadas e bebês famintos, muitos trabalhadores querem continuar mamando na teta ainda inchada dessa Sra CLT. Ainda vemos muitos brincando de leilão, (para ver qual empresa dá mais) e outros mais “espertinhos” escondendo atrás das leis para jogar o jogo do sindicato. Tudo isso, escondidos atrás das costas quentes do governo paternalista e cego que ao, invés de educar e incentivar o crescimento e amadurecimento desses filhos, coloca-os debaixo das asas fedidas de corrupção e assistem fazer greve no recreio. Do outro lado, ainda existe muito empresários  que só querer tirar vantagem, explorar e extrair o máximo de proveito dos seus funcionários, querem lucrar o dobro e pagar a metade, exigem muito, mas oferecem pouco, querem muito mais com muito menos. Dois lados com valores distorcidos e propósitos microscópicos. Resultado: sofrimento. Responsável: será mesmo o trabalho, ou aquele que dá e recebe e não ainda não aprendeu que precisa haver uma via de mão dupla e buscar o ganha-ganha?

Enquanto um lado só ganhar ou buscar tirar vantagem, todos perdem. O país perde, o governo perde, os empresários perdem, a sociedade perde! E o trabalho leva a má fama!

Por mais que a essência seja simples de pensar no bem comum, a solução é tão profunda e complexa que será preciso muito tempo e muito investimento para mudar a educação, a cultura e o modelo mental da sociedade.

O tempo não basta para acabar com os traumas do passado e com o comodismo-sem-princípios do presente. Enquanto uma geração não ensinar e ser exemplo para a outra geração, o trabalho continuará sendo o vilão da história.

E por falar em história, muitos (inclusive eu, que tive que pesquisar para escrever esse artigo) se esqueceram do motivo do feriado e da história que existe por trás. Que ao invés de reclamar, fazer greve, ficar de boa em casa ou se entreter nas festas de sindicatos, as pessoas possam refletir sobre o assunto, lembrar da história e homenagear aqueles que lutaram, sofreram e morreram para melhorar as condições de trabalho e buscar maior equilibro na relação daqueles que oferecem o trabalho e daqueles que o recebem. Quem sabe, um dia, as pessoas agradeçam o trabalho e decidam que a melhor forma de honrar o seu dia seja trabalhando!

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