
2013 entre 2014 e 2015
O ano de 2014 está indo embora, para os mais pessimistas não deixará saudades e será sempre lembrado como aquele que deve ser esquecido. Para os otimistas, que sempre tentam olhar a vida por um ângulo mais positivo, até que não há tanto motivo para reclamar, pois poderia ser pior. A divisão, os conflitos irascíveis e os interesses particularíssimos parecem ser a tônica dos dias atuais. No começo de 2014, também havia uma cisão das expectativas com relação ao desempenho do país na Copa Mundo, incertezas quanto ao funcionamento da economia e o medo com a imprevisibilidade das eleições. Por ironia do destino, fora de campo até que tudo transcorreu com certa naturalidade. Se por ventura, o país não deixou uma imagem muito positiva perante a opinião pública nacional não fez feio com relação à hospitalidade, à qualidade das novas arenas e a segurança dos turistas. O vexame ocorreu mesmo dentro de campo com as apresentações da Seleção Brasileira.Passado o período da Copa do Mundo, o país mergulhou numa eleição selvagem com campanha presidencial de baixo nível. Pela primeira vez, as mídias sociais foram largamente utilizadas nas campanhas e o processo comprovou a força e o poder dessas mídias. Tal qual a imprensa convencional — jornais, revistas, rádio e TV — a campanha evidenciou que as mídias sociais também têm o poder de construir e destruir candidaturas, de criar mentiras e fabricar verdades. O resultado das eleições mostrou um país dividido por ideologias, votos, regiões, posições políticas, ideológicas e religiosas. Não há nada de errado com essa efervescência cultural, comportamental ou religiosa. Um país tão grande e tão numeroso só poderia ser um turbilhão social. O que chamou a atenção, em 2014, foi o crescimento da intolerância e do preconceito em detrimento de um diálogo mais construtivo que pudesse buscar um consenso sobre temas polêmicos como o aborto, o casamento entre pessoas de mesmo sexo e o preconceito racial. Quem analisa o horizonte socioeconômico fica desesperançado com as enormes dificuldades para construir os consensos que fariam o país andar mais rápido.
Todo mundo sabe que o Congresso Nacional não está dividido pelos 32 partidos políticos, mas pelas bancadas que defendem o interesse de grupos específicos, da bola, das armas, das religiões, etc. Nas retrospectiva deste ano, também aparecem cenas de homofobia, de discriminação e de violência transbordando pelas ruas. O próprio resultado da eleição serviu para dar a dimensão da intolerância que grassa pelo país. O preconceito aflorou quando os nordestinos foram injustamente responsabilizados pela vitória e pela derrota dos dois principais candidatos das eleições presidenciais. A melhor oportunidade para conhecer um indivíduo é quando ele desfruta da liberdade plena. A manifestação livre nas redes sociais revelou com todas nuances uma fase sombria do país, que subsistia acobertada por um manto. Trata-se de um comportamento propenso ao conflito, beligerante, um modo de agir que em outros países do mundo produz estragos enormes, dor e sofrimento. Não há no Brasil lideranças com credibilidade e capacidade suficientes para conduzir a transição para níveis melhores de equilíbrio e de justiça social.
Mais do que nunca, a sociedade depende do bom funcionamento das instituições e as performances da imprensa, do judiciário, das igrejas e dos órgãos públicos estão vinculadas ao grau de cidadania dos indivíduos, ou seja, o país não vai melhorar pela ação dos governantes. As mudanças virão pela pressão popular com movimentos similares aos que aconteceram em junho de 2013, sem as quebradeiras. Só assim 2015 poderá superar 2014. Aproveite bem as festas.